Amor de Perdição by Camillo Castello Branco


Main
- books.jibble.org



My Books
- IRC Hacks

Misc. Articles
- Meaning of Jibble
- M4 Su Doku
- Computer Scrapbooking
- Setting up Java
- Bootable Java
- Cookies in Java
- Dynamic Graphs
- Social Shakespeare

External Links
- Paul Mutton
- Jibble Photo Gallery
- Jibble Forums
- Google Landmarks
- Jibble Shop
- Free Books
- Intershot Ltd

books.jibble.org

Previous Page | Next Page

Page 75

Tu nunca h�s de amar, n�o, meu esposo? Terias pejo de ti mesmo, se uma
vez visses passar rapidamente a minha imagem por diante dos teus olhos
enxutos? Soffre, soffre ao cora��o da tua amiga estas derradeiras
perguntas, a que tu responder�s, no alto mar, quando esta carta l�res.

Rompe a manh�. Vou v�r a minha ultima aurora... a ultima dos meus
dezoito annos!

Aben�oado sejas, Sim�o! Deus te proteja, e te livre d'uma agonia longa.
Todas as minhas angustias lhe offere�o em desconto das tuas culpas. Se
algumas impaciencias a justi�a divina me condemna, offerece tu a Deus,
meu amigo, os teus padecimentos para que eu seja perdoada.

Adeus; � luz da eternidade parece-me que j� te vejo, Sim�o.�

Erguei-se Sim�o Botelho, olhou em redor de si, e fitou com spasmo
Marianna, que levantava a cabe�a ao menor movimento d'elle.

--Que tem, senhor Sim�o?--disse ella, erguendo-se.

--Estava aqui, Marianna?... n�o se vai deitar?!

--N�o vou: o commandante deu-me licen�a de ficar aqui.

--Mas ha de assim passar a noite?! Rogo-lhe que v�, porque n�o �
necessario o seu sacrificio.

--Se o n�o incommodo, deixe-me aqui estar, senhor Sim�o.

--Esteja, minha amiga, esteja... Poderei subir ao convez?

--Quer ir ao convez, senhor Botelho?--disse o commandante lan�ando-se do
beliche.

--Queria, senhor commandante.

--Iremos juntos.

Sim�o ajuntou a carta de Thereza ao ma�o das suas, e subiu cambaleando.
No conv�z sentou-se n'um monte de cordame, e contemplou o mirante de
Monchique, que avultava negro ao sop� da serra penhascosa em que
actualmente vai a rua da Restaura��o.

O capit�o passeava da pr�a � r�; mas com o ouvido fito aos movimentos do
degredado. Rece�ra elle o proposito do suicidio, porque Marianna lhe
incutira semelhante suspeita. Queria o maritimo fallar-lhe palavras
consoladoras, mas pensava comsigo: �O que ha de dizer-se a um homem que
soffre assim?� E parava junto d'elle algumas vezes, como para
desviar-lhe o espirito d'aquelle mirante.

--Eu n�o me suicido!--exclamou abruptamente Sim�o Botelho--Se a sua
generosidade, senhor capit�o, se interessa em que eu viva, p�de dormir
descansado a sua noite, que eu n�o me suicido.

--Mas mere�o-lhe eu a condescendencia de descer comigo � camara?

--Irei; mas eu l� soffro mais, senhor.

N�o replicou o commandante, e continuou a passear no convez, apesar das
rajadas de vento.

Marianna estava agachada, entre os pacotes da carga, a pouca distancia
de Sim�o. O commandante viu-a, fallou-lhe, e retirou-se.

�s tres horas da manh� Sim�o Botelho segurou entre as m�os a testa que
se lhe abria abrazada pela febre.

N�o p�de ter-se sentado, e deixou cahir meio corpo. A cabe�a, ao
declinar, pousou no seio de Marianna.

--O anjo da compaix�o sempre comigo!--murmurou elle--Thereza foi muito
mais desgra�ada...

--Quer descer ao camarote?--disse ella.

--N�o poderei... Ampare-me, minha irm�.

Deu alguns passos para o al�ap�o, e olhou ainda para o mirante. Desceu a
ingreme escada, apegando-se �s cordas. Lan�ou-se sobre o colch�o, e
pediu agua, que bebeu insaciavelmente. Seguiu-se a febre, o
estorcimento, e as ancias, com intervallos de delirio.

Previous Page | Next Page


Books | Photos | Paul Mutton | Fri 26th Dec 2025, 13:07