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Page 74
�s onze horas da noite o commandante recolh�ra-se n'um beliche de
passageiro, e Marianna, sentada no pavimento, com o rosto sobre os
joelhos, parecia sucumbir ao quebranto das trabalhosas e afflictivas
horas d'aquelle dia.
Sim�o Botelho velava prostrado no camarote, com os bra�os cruzados sobre
o peito, e os olhos fitos na luz que balan�ava, pendente d'um arame. O
ouvido t�l-o-ia talvez attento ao assovio da ventania: devia de soar-lhe
como um ai plangente aquelle silvo agudo, voz unica no silencio da terra
e do ceu.
� meia noite estendeu Sim�o o bra�o tremulo ao masso das cartas que
Thereza lhe envi�ra, e contemplou um pouco a que estava ao de cima, que
era d'ella. Rompeu a obreia, e disp�z-se no camarote para alcan�ar o
ba�o clar�o da lampada.
Dizia assim a carta:
�� j� o meu espirito que te falla, Sim�o. A tua amiga morreu. A tua
pobre Thereza, � hora em que leres esta carta, se me Deus n�o engana,
est� em descanso.
Eu devia poupar-te a esta ultima tortura; n�o devia escrever-te; mas
perd�a � tua esposa do ceu a culpa pela consola��o que sinto em
conversar comtigo a esta hora, hora final da noite da minha vida.
Quem te diria que eu morri, se n�o fosse eu mesma, Sim�o? D'aqui a pouco
perder�s da vista este mosteiro; correr�s milhares de leguas, e n�o
achar�s, em parte alguma do mundo, voz humana que te diga: �A infeliz
espera-te n'outro mundo, e pede ao Senhor que te resgate.�
Se te podesses illudir, meu amigo, quererias antes pensar que eu ficava
com vida e com esperan�a de v�r-te na volta do degredo? Assim p�de ser,
mas ainda agora, n'este solemne momento, me domina a vontade de fazer-te
sentir que eu n�o podia viver. Parece que a mesma infelicidade tem �s
vezes vaidade de mostrar que o �, at� n�o pod�l-o ser mais! Quero que
digas: Est� morta, e morreu quando lhe eu tirei a ultima esperan�a.
Isto n�o � queixar-me, Sim�o, n�o �. Talvez que eu podesse alguns dias
resistir � morte, se tu ficasses; mas, d'um modo ou d'outro, era
inevitavel fechar os olhos quando se rompesse o ultimo fio, este ultimo
que se est� partindo, e eu mesma o oi�o partir.
N�o v�o estas palavras accrescentar a tua pena. Deus me livre de ajuntar
um remorso injusto � tua saudade.
Se eu podesse ainda v�r-te feliz n'este mundo; se Deus permittisse �
minha alma esta vis�o!... _Feliz_, tu, meu pobre condemnado!... Sem o
querer, o meu amor agora te fazia injuria, julgando-te capaz de
felicidade! Tu morrer�s de saudade, se o clima do desterro te n�o matar
ainda antes de succumbires � d�r do espirito.
A vida era bella, era, Sim�o, se a tivessemos como tu m'a pintavas nas
tuas cartas, que li ha pouco. Estou vendo a casinha que tu descrevias
defronte de Coimbra, cercada de arvores, fl�res e aves. A tua imagina��o
passeava comigo �s margens do Mondego, � hora pensativa do escurecer.
Estrellava-se o ceu, e a lua abrilhantava a agua. Eu respondia com a
mudez do cora��o ao teu silencio, e animada por teu sorriso inclinava a
face ao teu seio, como se fosse ao de minha m�e. Tudo isto li nas tuas
cartas; e parece que cessa o despeda�ar da agonia em quanto a alma se
esta recordando. N'outra carta me fallavas em triumphos e glorias e
immortalidade do teu nome. Tamb�m eu ia ap�s da tua aspira��o, ou
adiante d'ella, porque o maior quinh�o dos teus prazeres de espirito
queria eu que fosse meu. Era crian�a ha tres annos, Sim�o, e j� entendia
os teus anhelos de gloria, e imaginava-os realisados como obra minha, se
me tu dizias, como disseste muitas vezes, que n�o serias nada sem o
estimulo do meu amor.
� Sim�o, de que ceu t�o lindo cahimos! � hora que te escrevo est�s tu
para entrar na nau dos degredados, e eu na sepultura.
Que importa morrer, se n�o podemos j�mais ter n'esta vida a nossa
esperan�a de ha tres annos?! Poderias tu com a desesperan�a e com a
vida, Sim�o? Eu n�o podia. Os instantes do dormir eram os escassos
beneficios que Deus me concedia; a morte � mais que uma necessidade, �
uma misericordia divina, uma bemaventuran�a para mim.
E que farias tu da vida sem a tua companheira de martyrio? Onde ir�s tu
aviventar o cora��o que a desgra�a te esmagou, sem poder esmagar a
imagem d'esta docil mulher, que seguiu cegamente a estrella da tua
malfadada sorte?
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