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Page 70
Salva-te, se p�des, Thereza. Renuncia ao prestigio d'um grande
desgra�ado. Se teu pae te chama, vai. Se tem de renascer para ti uma
aurora de paz, vive para a felicidade d'esse dia. E sen�o, morre,
Thereza, morre, que a felicidade � a morte, � o desfazerem-se em p� as
fibras laceradas pela d�r, � o esquecimento que salva das injurias a
memoria dos padecentes.�
As palavras unicas de Thereza, em resposta �quella carta, significativa
da turva��o do infeliz, foram estas: �Morrerei, Sim�o, morrerei. Perd�a
tu ao meu destino... Perdi-te... bem sabes que sorte eu queria dar-te...
e morro, porque n�o posso, nem poderei j�mais resgatar-te. Se p�des,
vive; n�o te pe�o que morras, Sim�o; quero que vivas para me chorares.
Consolar-te-ha o meu espirito... Estou tranquilla... Vejo a aurora da
paz... Adeus at� ao ceu, Sim�o.�
Seguiram-se a esta carta muitos dias de terr�vel taciturnidade. Sim�o
Botelho n�o respondia �s perguntas de Marianna. Dil-o-ieis arrobado nas
voluptuosas angustias do seu proprio aniquilamento. A creatura, posta
por Deus ao lado d'aquelles dezoito annos t�o attribulados, chorava; mas
as lagrimas, se Sim�o as via, tiravam-no da mudez socegada para impetos
de afflic��o, que a final o extenuavam � for�a de convuls�es.
Decorreram seis mezes ainda.
E Thereza vivia, dizendo �s suas consternadas companheiras, que sabia ao
certo o dia do seu trespasse.
Duas primaveras vira Sim�o Botelho pelas grades do seu carcere. A
terceira j� inflorava as hortas, e esverdeava as florestas do Candal.
Era em Mar�o de 1807.
No dia 10 d'esse mez recebeu o condemnado intima��o para sahir na
primeira embarca��o que levava ancora do Douro para a India. N'esse
tempo vinham aqui os navios buscar os degredados, e recebiam em Lisboa
os que tinham igual destino.
Nenhum estorvo impedia o embarque de Marianna, que se apresentou ao
corregedor do crime como criada do degredado, com passagem paga por seu
amo.
--E a passagem vale-a bem!--disse o galhofeiro magistrado.
Sim�o assistiu no encaixotar de sua bagagem, n'uma quieta��o terrivel,
como se ignorasse o seu destino.
Quiz muitas vezes escrever a derradeira carta � moribunda Thereza, e nem
signaes de lagrimas podia j� enviar-lhe no papel.
--Que trevas, meu Deus!--exclamava elle, e arrancava a m�os cheias os
cabellos--Dai-me lagrimas, Senhor! deixai-me chorar, ou matai-me, que
este soffrimento � insupportavel!
Marianna contemplava estarrecida estes e outros lances de loucura, ou os
n�o menos medonhos da lethargia.
--E Thereza!--bradava elle, surgindo subitamente do seu spasmo--E
aquella infeliz menina, que eu matei! N�o hei de v�l-a mais, nunca mais!
Ninguem me levar� ao degredo a noticia da sua morte! E quando a eu
chamar para que me veja morrer digno d'ella, quem te dir� que eu morri,
� martyr!
X.
A 17 de Mar�o de 1807 sahiu dos carceres da Rela��o Sim�o Antonio
Botelho, e embarcou no caes da Ribeira, com setenta e cinco
companheiros. O filho do ex-corregedor de Vizeu, a pedido do
desembargador Mour�o Mosqueira, e por ordem do regedor das justi�as, n�o
ia amarrado com cordas ao bra�o d'algum companheiro. Desceu da cad�a ao
embarque, ao lado de um meirinho, e seguido de Marianna, que vigiava os
caix�es da bagagem. O magistrado, fiel amigo de D. Rita Preciosa, foi a
bordo da nau, e recommendou ao commandante que distinguisse o degredado
Sim�o, consentindo-o na tolda, e sentando-o � sua mesa. Chamou Sim�o de
parte, e deu-lhe um cartuxo de dinheiro em ouro, que sua m�e lhe
enviava. Sim�o Botelho aceitou o dinheiro, e na presen�a de Mour�o
Mosqueira pediu ao commandante que fizesse distribuir pelos seus
companheiros de degredo o dinheiro que lhe dava.
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