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Page 69
Depois, a passo igual, a esperan�a fugia-lhe para as areias da Asia, e o
cora��o intumecia-se de fel, o amor afogava-se n'elle, morte inevitavel,
quando n�o ha abertura por onde a esperan�a entre a luzir na escurid�o
intima.
Esperan�a, para Sim�o Botelho, qual?
A India, a humilha��o, a miseria, a indigencia.
E os anhelos d'aquella alma tinham mirado a ambi�es de um nome. Para a
felicidade do amor invidava as for�as do talento; mas, al�m do amor,
estava a gloria, o renome, e a v� immortalidade, que s� n�o � demencia
nas grandes almas, e nos genios que se presentem viver nas gera�es
vindouras, e se preluzem n'ellas. Mas grinaldas de amor a escorrerem
sangue dos espinhos, essas instillam veneno corrosivo no pensamento,
apagam no seio a faisca das nobres affoitezas, apoucam a ideia que
abrang�ra mundos, e paralysam de mortal spasmo os estos do cora��o.
Assim te sentias tu, infeliz, quando dezoito mezes de carcere, com o
patibulo ou o degredo na linha do teu porvir, te haviam matado o melhor
da alma.
A ti mesmo perguntavas pelo teu passado, e o cora��o, se ousava
responder, retrahia-se recriminado pelos dictames da raz�o.
D'al�m, d'aquelle convento onde outra existencia agonisava, gementes
queixas te vinham espremer fel na chaga; e tu, que n�o sabias, nem
podias consolar, pedias palavras ao anjo da compaix�o para ella, e
recebias as do demonio do desesp�ro para ti.
Os dez annos de ferros, era que lhe quizeram minorar a pena, eram-lhe
mais horrorosos que o patibulo. E aceital-o-ias, por ventura, se amasse
o ceu, onde Thereza bebia o ar, que nos pulm�es se lhe formava em
pe�onha? Creio:--antes a masmorra, onde p�de ouvir-se o som abafado de
uma voz amiga; antes os paroxismos de dez annos sobre as lages humidas
d'uma enxovia, se, na hora extrema, a ultima faisca da paix�o, ao
bruxolear para morrer, nos alumia o caminho do ceu por onde o anjo do
amor desditoso se levantou a dar conta de si a Deus, e a pedir a alma do
que ficou.
Thereza pedira a Sim�o Botelho que aceitasse dez annos de cad�a, e
esperasse ahi a sua redemp��o por ella.
�Dez annos!--dizia-lhe a inclausurada de Monchique--Em dez annos ter�
morrido meu pae, e eu serei tua esposa, e irei pedir ao rei que te
perd�e, se n�o tiveres cumprido a senten�a. Se vaes ao degredo, para
sempre te perdi, Sim�o, porque morrer�s, ou n�o achar�s memoria de mim
quando voltares.�
Como a pobre se illudia nas horas em que as debeis for�as de sua vida se
lhe concentravam no cora��o!
As ancias, a lividez, o deperecimento tinham voltado. O sangue, que
cre�ra novo, j� lhe sahia em golfadas com a tosse.
Se por amor ou piedade o condemnado aceitasse os ferrolhos tres mil
seiscentas e cincoenta vezes corridos sobre as suas longas noites
solitarias, nem assim Thereza sosteria a pedra sepulcral que a vergava
d'hora a hora.
�N�o esperes nada, martyr--escrevia-lhe elle.--A lucta com a desgra�a �
inutil, e eu n�o posso j� luctar. Foi um atroz engano o nosso encontro.
N�o temos nada n'este mundo. Caminhemos ao encontro da morte... Ha um
segredo que s� no sepulcro se sabe. V�r-nos-hemos?
Vou. Abomino a patria, abomino a minha familia, todo este solo est� aos
meus olhos coberto de forcas, e quantos homens fallam a minha lingua,
creio que os ou�o vociferar as impreca�es do carrasco. Em Portugal, nem
a liberdade com a opulencia; nem j� agora a realisa��o da esperan�as que
me dava o teu amor, Thereza!
Esquece-te de mim, e adormece no seio do nada. Eu quero morrer, mas n�o
aqui. Apague-se a luz de meus olhos; mas a luz do ceu, quero-a! quero
v�r o ceu no meu ultimo olhar.
N�o me pe�as que aceite dez annos de pris�o. Tu n�o sabes o que � a
liberdade captiva dez annos! N�o comprehendes a tortura dos meus vinte
mezes. A voz unica que tenho ouvido � a da mulher piedosa que me esmola
o p�o de cada dia, e a do aguazil que veio dar-me a sarcastica boa-nova
de uma gra�a real que me commuta o morrer instantaneo da forca pelas
agonias de dez annos de carcere.
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