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Page 7
Na vespera da sua ida para Coimbra, estava Sim�o Botelho despedindo-se
da suspirosa menina, quando subitamente ella foi arrancada da janella. O
allucinado mo�o ouviu gemidos d'aquella voz que, um momento antes,
solu�ava commovida por lagrimas de saudade. Subiu-lhe o sangue � cabe�a;
contorceu-se no seu quarto como o tigre contra as grades inflexiveis da
jaula. Teve tenta�es de se matar, na impotencia de soccorr�l-a. As
restantes horas d'aquella noite passou-as em raivas e projectos de
vingan�a. Com o amanhecer esfriou-lhe o sangue, e renasceu a esperan�a
com os calculos.
Quando o chamaram para partir para Coimbra, lan�ou-se do leito de tal
modo desfigurado, que sua m�e, avisada do rosto amargurado d'elle, foi
ao quarto interrogal-o e despersuadil-o de ir era quanto assim estivesse
febril. Sim�o, por�m, entre mil projectos, achara melhor o de ir para
Coimbra, e esperar l� noticias de Thereza, e vir a Vizeu occultamente
fallar com ella. Ajuizadamente discorr�ra elle, que a sua demora
aggravaria a situa��o de Thereza.
Desc�ra o academico ao p�teo, depois de abra�ar a m�e e irm�s, e beijar
a m�o do pae, que para esta hora reservara uma admoesta��o severa, a
ponto de lhe asseverar que de todo o abandonaria se elle recahisse em
novas extravagancias. Quando mettia o p� no estribo, viu a seu lado uma
velha mendiga, estendendo-lhe a m�o aberta, como quem pede esmola, e, na
palma da m�o, um pequeno papel. Sobresaltou-se o mo�o; e, a poucos
passos distante de sua casa, leu estas linhas:
�Meu pae diz que me vai encerrar n'um convento, por tua causa. Soffrerei
tudo por amor de ti. N�o me esque�as tu, e achar-me-has no convento, ou
no ceo, sempre tua do cora��o, e sempre leal. Parte para Coimbra. L�
ir�o dar as minhas cartas; e na primeira te direi em que nome has de
responder � tua pobre Thereza.�
A mudan�a do estudante maravilhou a academia. Se o n�o viam nas aulas,
em parte nenhuma o viam. Das antigas rela�es restavam-lhe apenas as dos
condiscipulos sensatos que o aconselhavam para bem, e o visitaram no
carcere de seis mezes, dando-lhe alentos e recursos, que seu pae lhe n�o
dava, e sua m�e escassamente suppria. Estudava com fervor, como quem j�
d'alli formava as bases do futuro renome e da posi��o por elle merecida,
bastante a sustentar dignamente a esposa. A ninguem confiava o seu
segredo, sen�o �s cartas que enviava a Thereza, longas cartas em que
folgava o espirito da canceira da sciencia. A apaixonada menina
escrevia-lhe a miudo, e j� dizia que a amea�a do convento f�ra mero
terror de que j� n�o tinha m�do, porque seu pae n�o podia viver sem
ella.
Isto afervorou-lhe para mais o amor ao estudo. Sim�o, chamado em pontos
difficeis das materias do primeiro anno, tal conta deu de si, que os
lentes e os condiscipulos o houveram como primeiro premiado.
A este tempo, Manoel Botelho, cadete em Bragan�a, destacado no Porto,
licenciou-se para estudar na universidade as mathematicas. Animou-o a
noticia do reviramento que se d�ra em seu irm�o. Foi viver com elle;
achou-o quieto; mas alheado n'uma ideia que o tornava misanthropo e
intratavel n'outro genero. Pouco tempo conviveram, sendo a causa da
separa��o um desgra�ado amor de Manoel Botelho a uma a�oriana casada com
um academico. A esposa apaixonada perdeu-se nas illus�es do cego amante.
Deixou o marido, e fugiu com elle para Lisboa, e d'ahi para Hespanha. Em
outro relan�o d'esta narrativa darei conta do remate d'este episodio.
No mez de Fevereiro de 1803 recebeu Sim�o Botelho uma carta de Thereza.
No seguinte capitulo se diz minuciosamente a peripecia que for��ra a
filha de Thadeu de Albuquerque a escrever aquella carta de pungentissima
surpreza para o academico, convertido aos deveres, � honra, � sociedade
e a Deus pelo amor.
III.
O pae de Thereza n�o embicaria na impureza do sangue do corregedor, se o
ajustarem-se os dois filhos em casamento se compadecesse com o odio de
um e o despr�so do outro. O magistrado mofava do rancor do seu visinho,
e o visinho malsinava de venalidade a reputa��o do magistrado. Este
sabia da injuriosa vingan�a em que o outro se ia despicando; fingia-se
invulneravel � detrac��o; mas de dia para dia se lhe azedava a bilis; e
� de cr�r que, se o n�o contivessem considera�es de familia, soffreria
menos, desabafando pela b�ca d'um bacamarte, arma da predilec��o dos
Botelhos Correias de Mesquita. Era obra sobrehumana o reconciliarem-se.
Rita, a filha mais nova, estava um dia na janella do quarto de Sim�o, e
viu a visinha rente com os vidros e a testa apoiada nas m�os. Sabia
Thereza que era aquella menina a mais querida irm� de Sim�o, e a que
mais semelhan�a de parecer tinha com elle. Sahiu da sua artificial
indifferen�a, e respondeu ao reparo de Rita, fazendo-lhe com a m�o um
gesto e sorrindo para ella. A filha do corregedor sorriu tambem, mas
fugiu logo da janella, porque sua m�e tinha prohibido �s filhas de
trocarem vistas com pessoa d'aquella casa.
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