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Page 67
A filha de Jo�o da Cruz, erguendo o olhos do pavimento, disse:
--Eu verei o que hei de fazer quando o senhor Sim�o partir para o
degredo....
--Pense desde j�, Marianna.
--N�o tenho que pensar... A minha ten��o est� feita...
--Falle, minha amiga, diga qual � a sua ten��o.
Marianna hesitou alguns segundos, e respondeu serenamente:
--Quando eu vir que n�o lhe sou precisa, acabo com a vida. Cuida que eu
ponho muito em me matar? N�o tenho pae, n�o tenho ninguem, a minha vida
n�o faz falta a pessoa nenhuma. O senhor Sim�o p�de viver sem mim?
paciencia!... eu � que n�o posso...
Sosteve o complemento da ideia como quem se peja d'uma ousadia. O pr�so
apertou-a nos bra�os estremecidamente, e disse:
--Ir�, ir� comigo, minha irm�. Pense muito no infortunio de n�s ambos
d'ora em diante, que elle � commum, � um veneno que havemos de tragar
unidos, e l� teremos uma sepultura de terra t�o pesada como a da patria.
Desde este dia, um secreto jubilo endoidecia o cora��o de Marianna. N�o
inventemos maravilhas de abnega��o. Era de mulher o cora��o de Marianna.
Amava como a fantasia se compraz de idear o amor d'uns anjos que batem
as azas de baile em baile, e apenas quedam o tempo preciso para se
fazerem v�r e adorar a um reflexo de poesia apaixonada. Amava, e tinha
ciumes de Thereza, n�o ciumes que se refrigeram na expans�o ou no
despeito, mas infernos surdos, que n�o rompiam em lavareda aos labios,
porque os olhos se abriam promptos em lagrimas para apagal-a. Sonhava
com as delicias do desterro, porque voz humana alguma n�o iria l� gemer
� cabeceira do desgra�ado. Se a for�assem a resignar a sua ingloria
miss�o de irm� d'aquelle homem, resignal-a-ia, dizendo: �Ninguem o amar�
como eu; ningu�m lhe ado�ar� as penas t�o desinteresseiramente como o eu
fiz.�
E, comtudo, nunca vacillou em aceitar da m�o de Thereza ou da mendiga as
cartas para Sim�o. A cada vinco de d�r que a leitura d'aquellas cartas
sulcava na fronte do pr�so, Marianna, que o espreitava disfar�ada,
tremia em todas as fibras do seu cora��o, e dizia entre si: �para que ha
de aquella senhora amargurar-lhe a vida!�
E amargurava acerbamente a desditosa menina!
Resurgiram n'aquella alma esperan�as, que n�o deviam durar al�m do tempo
necessario para que a desillus�o lhe acrisolasse o infortunio. Imaginara
ella a liberdade, o perd�o, o casamento, a ventura, a cor�a do seu
martyrio. As suas amigas matizavam-lhe a tela da fantasia, umas porque
n�o conheciam a atroz realidade das coisas, outras porque fiavam em
demasia nas ora�es das virtuosas do mosteiro. Se os vaticinios das
prophetisas se realisassem, Sim�o sahiria da cad�a, Thadeu de
Albuquerque morreria de velhice e de raiva, o casamento seria um acto
indisputavel, e o ceu dos desgra�ados principiaria n'este mundo.
Por�m Sim�o Botelho, ao cabo de cinco mezes de carcere, j� sabia o seu
destino, e ach�ra util prevenir Thereza, para n�o succumbir ao
inevitavel golpe da separa��o. Bem queria elle alumiar com esperan�as a
perspectiva negra do degredo; mas froixos e frios eram os allivios em
que n�o era parte a convic��o nem o sentimento. Thereza n�o podia sequer
illudir-se, porque tinha no peito um despertador que a estava acordando
sempre para a hora final, embora o semblante enganasse a condolencia dos
estranhos.
E ent�o era o expandir-se em lastimas nas cartas que escrevia ao seu
amigo; invoca�es a Deus, e sacrilegas apostrophes ao destino; branduras
de paciencia e impetos de c�lera contra o pae; o afferro � vida que lhe
foge, e s�pplicas � morte, que a n�o livra das torturas da alma e do
corpo.
No termo de sete mezes o tribunal de segunda instancia commutou a pena
ultima em dez annos de degredo para a India. Thadeu de Albuquerque
acompanhou a Lisboa a appella��o, e offereceu a sua casa a quem
mantivesse de p� a forca de Sim�o Botelho. O pae do condemnado, segundo
o assustador aviso que seu filho Manoel lhe dera, foi para Lisboa luctar
com o dinheiro e as ponderosas influencias que Thadeu de Albuquerque
grange�ra na casa da supplica��o e no desembargo do pa�o. Venceu
Domingos Botelho, e instigado mais do seu capricho, que do amor
paternal, alcan�ou do principe regente a gra�a de cumprir o condemnado a
sua senten�a na pris�o de Villa Real.
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