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Page 66
--N�o ha de ser tanto assim. Eu tenho perguntado muito por isso � mulher
d'um pr�so que cumpriu dez annos de senten�a na India, e viveu muito bem
em uma terra chamada Solor, onde teve uma loja; e, se n�o fossem as
saudades, diz ella que n�o vinha, porque lhe corria melhor por l� a vida
que por c�. Eu, se f�r por vontade do senhor Sim�o, vou p�r uma lojinha
tambem. Ver� como eu amenho a vida. Affeita ao calor estou eu; v. s.^a
n�o est�; mas n�o ha de ter precis�o, se Deus quizer, de andar ao tempo.
--E supponha, Marianna, que eu morro apenas chegar ao degredo?
--N�o fallemos n'isso, senhor Sim�o...
--Fallemos, minha amiga, porque eu hei de sentir � hora da morte a
pesar-me na alma a responsabilidade do seu destino... Se eu morrer?
--Se o senhor morrer, eu saberei morrer tambem.
--Ninguem morre quando quer, Marianna...
--Oh! se morre!... e vive tambem quando quer... N�o m'o disse j� a
senhora D. Thereza?
--Que lhe disse ella?
--Que estava a passar quando v. s.^a chegou ao Porto, e que a sua
chegada lhe dera vida. Pois ha muita gente assim, senhor Sim�o... E mais
a fidalga � fraquinha, e eu sou mulher do campo, vezada a todos os
trabalhos; e, se fosse preciso metter uma lanceta no bra�o e deixar
correr o sangue at� morrer, fazia-o como quem o diz.
--Oi�a-me, Marianna, que espera de mim?
--Que hei de eu esperar!... Porque me diz isso o senhor Sim�o?
--Os sacrificios que Marianna tem feito e quer fazer por mim s� podiam
ter uma paga, embora m'os n�o fa�a esperando recompensa. Abre-me o seu
cora��o, Marianna?
--Que quer que eu lhe diga?
--Conhece a minha vida t�o bem como eu, n�o � verdade?
--Conhe�o, e que tem isso?
--Sabe que eu estou ligado pela vida e pela morte �quella desgra�ada
senhora?
--E d'ahi? quem lhe diz menos d'isso?!
--Os sentimentos do cora��o s� os posso agradecer com amizade.
--E eu j� lhe pedi mais alguma coisa, senhor Sim�o?!
--Nada me pediu, Marianna; mas obriga-me tanto, que me faz mais infeliz
o p�so da obriga��o.
Marianna n�o respondeu, chorou.
--E porque chora?--tornou Sim�o carinhosamente.
--Isso � ingratid�o.... e eu n�o mere�o que me diga que o fa�o infeliz.
--N�o me comprehendeu... Sou infeliz por n�o poder faz�l-a minha mulher.
Eu queria que Marianna pod�sse dizer: �Sacrifiquei-me por meu marido; no
dia em que o vi ferido em casa de meu pae, velei as noites ao seu lado;
quando a desgra�a o encerrou entre ferros, dei-lhe o p�o, que nem seus
ricos paes lhe davam; quando o vi sentenciado � forca, endoideci; quando
a luz da minha raz�o me tornou n'um raio de compaix�o divina, corri ao
segundo carcere, alimentei-o, vesti-o, e adornei-lhe as paredes nuas do
seu antro; quando o desterraram, acompanhei-o, fiz-me a patria d'aquelle
pobre cora��o, trabalhei � luz do sol homicida para elle se resguardar
do clima, do trabalho, e do desamparo, que o matariam...�
O espirito de Marianna n�o podia altear-se � express�o do pr�so; mas o
cora��o sinil, esse adivinhava-lhe as ideias. E a pobre mo�a sorria e
chorava a um tempo. Sim�o continuou:
--Tem vinte e seis annos, Marianna. Viva, que esta sua existencia n�o
p�de ser sen�o um supplicio occulto. Viva, que n�o deve dar tudo a quem
lhe n�o p�de restituir sen�o as lagrimas que lhe eu tenho custado. O
tempo do meu desterro n�o p�de estar longe; esperar outro melhor destino
seria uma loucura. Se eu ficasse na patria, livre ou pr�so, pediria a
minha irm� que completasse a obra generosa da sua compaix�o, esperando
que eu lhe d�sse a ultima palavra da minha vida. Mas n�o v� comigo �
�frica ou � India, que sei que voltar� s�sinha � p�tria depois que eu
fechar os olhos. Se o meu degredo f�r temporario, e a morte me guardar
para maiores naufragios, voltarei � patria um dia. E preciso que
Marianna aqui esteja para eu poder dizer que venho para a minha familia,
que tenho aqui uma alma extremosa que me espera. Se a encontrar com
marido e filhos, a sua familia ser� a a minha. Se a vir livre e s�, irei
para a companhia de minha irm�. Que me responde, Marianna?
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