Amor de Perdição by Camillo Castello Branco


Main
- books.jibble.org



My Books
- IRC Hacks

Misc. Articles
- Meaning of Jibble
- M4 Su Doku
- Computer Scrapbooking
- Setting up Java
- Bootable Java
- Cookies in Java
- Dynamic Graphs
- Social Shakespeare

External Links
- Paul Mutton
- Jibble Photo Gallery
- Jibble Forums
- Google Landmarks
- Jibble Shop
- Free Books
- Intershot Ltd

books.jibble.org

Previous Page | Next Page

Page 63

VII.


Jo�o da Cruz, no dia 4 de Agosto de 1805, sentou-se � mesa com triste
aspecto e nenhum appetite do almo�o.

--N�o comes, Jo�o?--disse-lhe a cunhada.

--N�o passa d'aqui o bocado--respondeu elle, pondo o dedo nos
gorgomilos.

--Que tens tu?

--Tenho saudades da rapariga... Dava agora tudo quanto tenho para a v�r
aqui ao p� de mim com aquelles olhos que pareciam ir direitos aos
desgostos que um homem tem no seu interior. Mal hajam as desgra�as da
minha vida que m'a fizeram perder, Deus sabe se para pouco, se para
sempre!... Se eu n�o tivesse dado o tiro no almocreve, n�o vinha a ficar
em obriga��o ao corregedor, e n�o se me dava que o filho vivesse ou
morresse...

--Mas se tens saudades--atalhou a senhora Josefa--manda buscar a
rapariga, tem-l'a c� algum tempo, e torna depois para onde ao senhor
Sim�o.

--Isso n�o � d'homem que p�e navalha na cara, Josefa. O rapaz, se ella
lhe falta, morre de pasmo dentro d'aquelles ferros. Isto � ven�ta que me
deu hoje... Sabes que mais? leve a breca o dinheiro: �manh� vou ao
Porto.

--Pois isso � o que tu deves fazer.

--Est� dito! Quem c� ficar que o ganhe. V�o-se os anneis e fiquem os
dedos. Por ora tem-se resistido a tudo com o meu bra�o. A rapariga, se
ficar com menos, l� se avenha. Assim o quer, assim o tenha.

Reanimou-se a physionomia do mestre ferrador, e como que os impe�os da
garganta se iam removendo � medida que planisava a sua ida ao Porto.

Acab�ra de almo�ar, e fic�ra scismatico, encostado � mesa do escano.

--Ainda est�s malucando?!--tornou Josefa.

--Parece coisa do demonio, mulher!... A rapariga estar� doente ou morta?

--Anjo bento da Sant�ssima Trindade!--exclamou a cunhada, erguendo as
m�os--que dizes tu, Jo�o!

--Estou c� por dentro negro como aquella sart�!

--Isso � flato, homem! vai tomar ar, trabalha um poucaxinho para
espaireceres.

Jo�o da Cruz passou ao coberto onde tinha o armario da ferragem e a
bigorna, e come�ou a atarracar cravos.

Alguns conhecidos tinham passado, palavreando com elle consoante
costumavam, e achavam-no taciturno e nada para gra�as.

--Que tens tu, Jo�o?--dizia um.

--N�o tenho nada. Vai � tua vida, e deixa-me, que n�o estou para l�rias.

Outro parava e dizia:

--Guarde-o Deus, senhor Jo�o.

--E a vocemec� tambem. Que novidade ha?

--N�o sei nada.

--Pois ent�o v� com nossa Senhora, que eu estou c� de candeias �s
avessas.

O ferrador largava o martello; sentava-se aos poucos no tronco, e co�ava
a cabe�a com frenesi. Depois recome�ava novamente, e t�o alheado o
fazia, que estragava o cravo, ou martellava os dedos.

--Isto � coisa do diabo!--exclamou elle; e foi � cosinha procurar a
pichorra, que emborcou como qualquer elegante de paix�es ethereas se
aturde com absyntho--Hei de afogar-te, coisa m�, que me est�s apertando
a alma!--continuou o ferrador, sacudindo os bra�os, e batendo o p� no
soalho.

Previous Page | Next Page


Books | Photos | Paul Mutton | Thu 25th Dec 2025, 11:06