Amor de Perdição by Camillo Castello Branco


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Page 62

--Da ilha do Fayal--respondeu tremula a dama.

--Tem familia?

--Tenho m�e e irm�s.

--Sua m�e aceital-a-ia se a senhora lhe pedisse abrigo?

--Creio que sim.

--Sabe que Manoel � um desertor, que a estas horas est� pr�so ou
fugitivo?

--N�o sabia...

--Quer isto dizer que a senhora n�o tem protec��o de alguem.

A pobre mulher solu�ava, abafada por ancias, e debulhada em lagrimas.

--Porque n�o vai para sua m�e?

--N�o tenho recursos alguns--respondeu ella.

--Quer partir hoje mesmo? � porta da estalagem encontrar� uma liteira, e
uma criada para acompanhal-a at� ao Porto. L� entregar� uma carta. A
pessoa a quem escrevo lhe cuidar� da passagem para Lisboa. Em Lisboa
outra pessoa a levar� a bordo da primeira embarca��o que sahir para os
A�ores. Estamos combinados? Aceita?

--E beijo as m�os de v. s.^a... Uma desgra�ada como eu n�o podia esperar
tanta caridade.

Poucas horas depois a esposa do medico....

--Que tinha morrido de paix�o e vergonha, talvez!--exclama uma leitora
sensivel.

N�o, minha senhora; o estudante continuava n'esse anno a frequentar a
Universidade; e como tinha j� vasta instruc��o em pathologia, poupou-se
� morte da vergonha, que � uma morte inventada pelo visconde de A.
Garrett no _Fr. Luiz de Souza_, e � morte de paix�o, que � outra morte
inventada pelos namorados nas cartas despeitosas, e que n�o pega nos
maridos a quem o seculo dotou d'uns longes de philosophia, philosophia
grega e romana, porque bem sabem que os philosophos da antiguidade davam
por mimo as mulheres aos seus amigos, quando os seus amigos por favor
lh'as n�o tiravam. E esta philosophia, hoje ent�o...[6] Pois o medico
n�o morreu, nem sequer desmedrou, ou levou _r_ significativo de
preoccupa��o do animo insensivel �s amenidades da therapeutica.

A esposa, inquestionavelmente muito mais alquebrada e valetudinaria que
seu esposo, lavada em pranto, morta de saudades, sem futuro, sem
esperan�as, sem voz humana que a consolasse, entrou na liteira, e chegou
ao Porto, onde procurou o corregedor do crime para entregar-lhe uma
carta do doutor Domingos Botelho. Um periodo d'esta carta dizia assim:

�D�ste-me noticia d'uma filha, que eu n�o conhecia, nem reconhe�o. A m�e
d'esta senhora est� no Fayal, para onde ella vai. Cuida tu, ou manda
cuidar no seu transporte para Lisboa, e encarrega ali alguem de correr
com a passagem d'ella para os A�ores no primeiro navio. A mim me dar�s
conta das despezas. Meu filho Manoel teve ao menos a virtude de n�o
matar ninguem para se constituir amante. Do modo como correm os tempos,
muito virtuoso � um rapaz que n�o mata o marido da mulher que ama. V� se
consegues do general, que est� ahi, perd�o para o rapaz, que � desertor
de cavallaria seis, e me consta que est� escondido em casa de um
parente. Em quanto a Sim�o, creio que n�o � possivel salval-o do degredo
temporario... � uma lan�a em Africa livral-o da forca. Em Lisboa
movem-se grandes potencias contra o desgra�ado, e eu estou malvisto do
intendente geral por abandonar o logar... etc.�

Partiu para Lisboa a a�oriana, e d'ali para a sua terra, e para o abrigo
de sua m�e, que a julg�ra morta, e lhe deu annos de vida, se n�o ditosa,
socegada e desilludida de chimeras.

Manoel Botelho, obtido o perd�o pela preponderancia do corregedor do
crime, mudou de regimento para Lisboa, e ahi permaneceu at� que,
fallecido seu pae, pediu a baixa, e voltou � provincia.




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Books | Photos | Paul Mutton | Thu 25th Dec 2025, 8:52