Amor de Perdição by Camillo Castello Branco


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Page 61

--Justamente--disse Manoel.

--Bella, lhe affirmo eu que est�, minha senhora; mas fez-se um rosto
muito outro do que era!...

--Vieram v�r o infeliz Sim�o?--atalhou o corregedor.

--Sim, senhor... viemos v�r meu pobre irm�o.

--Foi um raio que cahiu na familia aquelle rapaz!...-- ajuntou
Mosqueira--mas p�de estar na certeza que a senten�a n�o se executa; diga
a sua m�e que m'o ouviu da minha b�ca. O meu tribunal est� preparado
para lhe minorar a pena em dez annos de degredo para a India, e seu pae,
segundo me disse na passagem para Villa Real, j� preparou as coisas na
supplica��o e no desembargo do pa�o, n�o obstante o morto l� ter
parentes poderosos nas duas instancias. Quizeramos absolv�l-o, e
restituil-o � sua fam�lia; mas tanto � imposs�vel. Sim�o matou, e
confessa soberbamente que matou. N�o consente mesmo que se diga que em
defeza o fez. � um doido desgra�ado com sentimentos nobilissimos! Chovem
cartas de empenho a favor do Albuquerque. Pedem a cabe�a do pobre rapaz
com uma sem-ceremonia que indigna o animo.

--E essa menina que foi a causa da desgra�a?--perguntou Manoel.

--Isso � uma heroina!--respondeu o corregedor do crime--Davam-na j� por
morta quando Sim�o chegou aqui. Desde que soube das probabilidades da
commuta��o da pena, deu um pontap� na morte, e est� salva, segundo me
disse o medico.

--Conhece-a muito bem, minha senhora?--disse o desembargador � dama,
supposta irm� de Manoel.

--Muito bem--respondeu ella, relanceando os olhos ao amante.

--Dizem que � formosissima!

--De certo--acudiu Manoel--� formosissima.

--Muito bem--disse o corregedor, erguendo-se.--Leve este abra�o ao pae,
e diga-lhe que o condiscipulo c� est� leal e dedicado como sempre. Eu
tenho de lhe escrever brevemente.

--E outro abra�o a sua virtuosa m�e--acerescentou o desembargador.

--Vou desconfiado!--disse o Mosqueira ao collega--Manoel Botelho tinha,
ha coisa d'um anno, fugido para Hespanha com uma senhora casada. Aquella
mulher, que vimos, n�o � irm� d'elle.

--Pois se nos mentiu � mariola, por nos obrigar a cortejar uma
concubina!... Eu me informarei...--disse o corregedor, offendido no seu
austero pundonor.

E no proximo correio, escrevendo a Domingos Botelho, dizia no periodo
final: �Tive o gosto de conhecer teu filho Manoel, e uma de tuas filhas;
por elle te mandei um abra�o, e por ella te mandaria outro, se fosse
modo ensinarem velhos a meninas bonitas como se d�o os abra�os nos
paes.�

Estava j� Manoel em casa de seus av�s, e cuidava em trastejar uma
modesta casa para a a�oriana, auxiliado por sua bondosa e indulgente
m�e. O pae f�ra informado da vinda, e dissera que n�o queria v�r o
filho, avisando-o de que era considerado desertor de cavallaria seis,
desde que abandon�ra os estudos, onde estava com licen�a.

Recebeu depois a carta do corregedor do crime, e mandou immediata e
secretamente devassar se em Villa Real estava a senhora que indicava a
carta. A espionagem deu-a como certa na estalagem, em quanto Manoel
Botelho cuidava nos adornos de uma casa. Escreveu o magistrado ao juiz
de f�ra, e este mandou chamar � sua presen�a a mulher suspeita, e ouviu
d'ella a sua historia sincera e lagrimosamente contada. Condoeu-se o
juiz, e revelou ao collega as suas averigua�es. Domingos Botelho foi a
Villa Real, e hospedou-se em casa do juiz de f�ra, onde a senhora foi
novamente chamada, sendo que ao mesmo tempo o general da provinda
lavrava ordem de pris�o para o cadete desertor de cavallaria de
Bragan�a.

A a�oriana, em vez do juiz, encontrou um feio homem, de carrancuda
sombra, e apparencias de inten�es sinistras.

--Eu sou pae de Manoel--disse Domingos Botelho--Sei a historia da
senhora. O infame � elle. V. s.^a � a victima. O castigo da senhora
principiou desde o momento em que a sua consciencia lhe disse que
praticou uma ac��o indigna. Se a consciencia lh'o n�o disse ainda, ella
lh'o dir�. D'onde �?

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Books | Photos | Paul Mutton | Thu 25th Dec 2025, 6:32