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Page 56
Offendido at� ao amago pela derradeira ironia, Thadeu ergueu-se de
impeto, tomou o chap�o e a enorme bengala de cast�o d'ouro, e fez a
cortezia da despedida.
--S�o amargas as verdades, n�o � assim?--disse-lhe, sorrindo, o
desembargador Mour�o Mosqueira.
--V. ex.^a l� sabe o que diz, e eu c� sei no que hei de ficar--respondeu
com tom ironico o fidalgo, alanceado na sua honra, e na dos seus quinze
av�s.
O desembargador retorquiu:
--Fique no que quizer; mas v� na certeza, se isso lhe serve d'alguma
coisa, que Sim�o Botelho n�o vai � forca.
--Veremos...--resmoneou o velho.
V.
S�o treze dias corridos do mez de Mar�o de 1805.
Est� Sim�o n'um quarto de malta das cad�as da Rela��o. Um catre de
t�boas, um colch�o de embarque, uma banca e cadeira de pinho, e um
pequeno pacote de roupa, collocado no logar do travesseiro, s�o a sua
mobilia. Sobre a mesa tem um caixote de pau preto, que cont�m as cartas
de Thereza, ramilhetes s�ccos, os seus manuscriptos do carcere de Vizeu,
e um avental de Marianna, o ultimo com que ella enxug�ra lagrimas, e
arranc�ra de si no primeiro instante de demencia.
Sim�o rel� as cartas de Thereza, abre os envoltorios de papel que
encerram as fl�res resequidas, contempla o avental de linho, procurando
os visiveis vestigios das lagrimas. Depois encosta a face e o peito aos
ferros da sua janella, e avista os horisontes boleados pelas serras de
Vallongo e Gralheira, e cortados pelas ribas pittorescas de Gaya, do
Candal, de Oliveira, e do mosteiro da serra do Pilar. � um dia lindo.
Reflectem-se do azul do ceu os mil matizes da primavera. Tem aromas o
ar, e a vira��o, fugitiva dos jardins, derrama no ether as urnas que
roubou aos canteiros. Aquella indefinida alegria, que parece reluzir nas
legi�es de espiritos, que se geram ao sol de Mar�o, rejubila a natureza,
que toda pompas de luz e fl�res se est� namorando do calor que a vai
fecundando.
Dia de amor e de esperan�as era aquelle que o Senhor mandava � cho�a
encravada na garganta da serra, ao palacio esplendoroso que reverberava
ao sol os seus espiraculos, ao opulento que passeava as suas molles
equipagens, bafejado pelo respiro acre das �ar�as, e ao mendigo que
desentorpecia os membros encostado �s columnas dos templos.
E Sim�o Botelho, fugindo a claridade da luz, e o voejar das aves,
meditando, chorava e escrevia assim as suas medita�es:
�O p�o do trabalho de cada dia, e o teu seio para repousar uma hora a
face, pura de manchas. N�o pedi mais ao ceu.
Achei-me homem aos dezeseis annos. Vi a virtude � luz do teu amor.
Cuidei que era santa a paix�o que absorvia todas as outras, ou as
depurava com o seu fogo sagrado.
Nunca os meus pensamentos foram denegridos por um desejo, que eu n�o
possa confessar alto diante de todo o mundo. Diz tu, Thereza, se os meus
labios profanaram a pureza de teus ouvidos. Pergunta a Deus quando quiz
eu fazer do meu amor o teu opprobrio.
Nunca, Thereza! Nunca, � mundo que me condemnas!
Se teu pae quizesse que eu me arrastasse a seus p�s para te merecer,
beijar-lh'os-ia. Se tu me mandasses morrer para te n�o privar de ser
feliz com outro homem, morreria, Thereza!
Mas tu eras s�sinha e infeliz, e eu cuidei que o teu algoz n�o devia
sobreviver-te. Eis-me aqui homicida, e sem remorsos. A insania do crime
aturde a consciencia; n�o a minha, que se n�o temia das escadas da
forca, nos dias em que o meu despertar era sempre o estrebuxamento da
suffoca��o.
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