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Page 55
--Quero c� f�ra Thereza.
--Como f�ra? Quem ha de lan�al-a f�ra?!
--A senhora, que n�o p�de aqui reter uma filha contra a vontade de seu
pae.
--Isso assim �; mas tenha prudencia, primo.
--N�o ha prudencia, nem meia prudencia. Quero minha filha c� f�ra.
--Pois ella n�o quer ir?
--N�o, senhora.
--Ent�o espere que por bons modos a conven�amos a sahir, porque n�o
havemos trazer-lh'a a rastos.
--Eu vou buscal-a, sendo preciso--redarguiu em crescente
furia.--Abram-me estas portas, que eu a trarei!
--Estas portas n�o se abrem assim, meu primo, sem licen�a superior. A
Regra do mosteiro n�o p�de ser quebrantada para servir uma paix�o
rancorosa. Tranquillise-se, senhor! V� descan�ar d'esse frenesi, e venha
n'outra hora combinar comigo o que f�r digno de todos n�s.
--Tenho entendido!--exclamou o velho, gesticulando contra o ralo do
locutorio--Conspiram todas contra mim! Ora descancem, que eu lhes darei
uma boa li��o. Fique a senhora abbadessa sabendo que eu n�o quero que
minha filha receba mais cartas do matador, percebeu?
--Eu creio que Thereza nunca recebeu cartas de matadores, nem supponho
que as receba d'ora em diante.
--N�o sei se sabe, nem sen�o. Eu vigiarei o convento. A criada, que est�
com ella, ponham-na f�ra, percebeu?
--Porqu�?--redarguiu a prelada com enfado.
--Porque a encarreguei de me avisar de tudo, e ella nada me tem contado.
--Se n�o tinha que lhe dizer, senhor!
--N�o me conte historias, prima! A criada quero v�l-a sahir do convento,
e j�!
--Eu n�o lhe posso fazer a vontade, porque n�o fa�o injusti�as. Se v.
s.^a quizer que sua filha tenha outra criada, mande-lh'a; mas a que ella
tem, logo que deixe de a servir, ha muitas senhoras n'esta casa que a
desejam, e ella mesma deseja aqui ficar.
--Tenho entendido!---bradou elle--querem-me matar! Pois n�o matam;
primeiro ha de o diabo dar um estoiro!
Thadeu de Albuquerque sahiu em corcovos do atrio do mosteiro. Era
hedionda aquella raiva que lhe contrahia as faces incorreadas, revendo
suor e sangue aos olhos acovados.
Apresentou-se ao intendente da policia, pedindo providencias para que se
lhe entregasse sua filha. O intendente respondeu que n�o solicitava
competentemente taes providencias. Instou para que o carcereiro da cad�a
n�o deixasse sahir alguma carta de um assassino, vindo da comarca de
Vizeu, por nome Sim�o Botelho. O intendente disse que n�o podia, sem
motivos concernentes a devassas, obstar a que o pr�so escrevesse a quem
quer que fosse.
Reduplicada a furia, foi d'ali ao corregedor do Porto, com os mesmos
requerimentos em tom arrogante. O corregedor, particular amigo de
Domingos Botelho, despediu com enfado o importuno, dizendo-lhe que a
velhice sem juizo era coisa t�o de riso como de lastima. Esteve ent�o a
pique de perder-se a cabe�a de Thadeu de Albuquerque. Andava e desandava
as ruas do Porto, sem atinar com uma sahida digna da sua prosapia e
vingan�a. No dia seguinte bateu � porta d'alguns desembargadores, e
achava-os mais inclinados � clemencia, que � justi�a, a respeito de
Sim�o Botelho. Um d'elles, amigo de infancia de D. Rita Preciosa, e
implorado por ella, fallou assim ao sanhudo fidalgo:
--Em pouco est� o ser homicida, senhor Albuquerque. Quantas mortes teria
v. s.^a hoje feito, se alguns adversarios se oppozessem � sua c�lera?
Esse infeliz mo�o, contra quem o senhor solicita desvariadas violencias,
conserva a honra na altura da sua immensa desgra�a. Abandonou-o o pae,
deixando-o condemnar � forca; e elle da sua extrema degrada��o nunca fez
sahir um grito supplicante de misericordia. Um estranho lhe esmolou a
subsistencia de oito mezes de carcere, e elle aceitou a esmola, que era
honra para si e para quem lh'a dava. Hoje fui eu v�r esse desgra�ado
filho de uma senhora que conheci no pa�o, sentada ao lado dos reis.
Achei-o vestido de baet�o e panno pedrez. Perguntei-lhe se assim estava
desprovido de fato. Respondeu-me que se vestira � propor��o dos seus
meios, e que devia � caridade d'um ferrador aquellas cal�as e jaqueta.
Repliquei-lhe eu que escrevesse a seu pae para o vestir decentemente.
Disse-me que n�o pedia nada a quem consentiu que os delictos de seu
cora��o e da sua dignidade e do pundonor do seu nome fossem expiados
n'um patibulo. Ha grandeza n'este homem de dezoito annos, senhor
Albuquerque. Se v. s.^a tivesse consentido que sua filha amasse Sim�o
Botelho Castello-Branco, teria poupado a vida ao homem sem honra que se
lhe atravessou com insultos e offensas corporaes de tal affronta, que
deshonrado ficaria Sim�o se as n�o repellisse como homem de alma e
brios. Se v. s.^a se n�o tivesse opposto �s honestissimas e innocentes
affei�es de sua filha, a justi�a n�o teria mandado arvorar uma forca,
nem a vida de seu sobrinho teria sido immolada aos seus caprichos de mau
pae. E se sua filha casasse com o filho do corregedor de Vizeu, pensa
acaso v. s.^a que os seus bras�es soffriam desdouro? N�o sei de que
seculo data a nobreza do senhor Thadeu de Albuquerque; mas do bras�o de
D. Rita Thereza Margarida Preciosa Caldeir�o Castello-Branco posso
dar-lhe informa�es sobre as paginas das mais veridicas e illustres
genealogias do reino. Por parte de seu pae, Sim�o Botelho tem do melhor
sangue de Traz-os-Montes, e n�o se temer� de entrar em competencias com
o dos Albuquerques de Vizeu, que n�o � de certo o dos _Albuquerques
terriveis_ de que resa Luiz de Cam�es...
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