Amor de Perdição by Camillo Castello Branco


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Page 5

Os quinze annos de Sim�o tem apparencias de vinte. � forte de
complei��o; bello homem com as fei�es de sua m�e, e a corpolencia
d'ella; mas de todo av�sso em genio. Na plebe de Vizeu � que elle
escolhe amigos e companheiros. Se D. Rita lhe censura a indigna elei��o
que faz, Sim�o zomba das genealogias, e m�rmente do general Caldeir�o
que morreu frito. Isto bastou para elle grangear a mal-queren�a de sua
m�e. O corregedor via as coisas pelos olhos de sua mulher, e tomou parte
no desgosto d'ella, e na avers�o ao filho. As irm�s temiam-no, tirante
Rita, a mais nova, com quem elle brincava puerilmente, e a quem
obedecia, se lhe ella pedia, com meiguices de crian�a, que n�o andasse
com pessoas mecanicas.

Finalisavam as ferias, quando o corregedor teve um grave dissabor. Um de
seus criados tinha ido levar a beber os machos, e por descuido ou
proposito deixou quebrar algumas vasilhas que estavam � vez no parapeito
do chafariz. Os donos das vazilhas conjuraram contra o criado, e
espancaram-no. Sim�o passava n'esse ensejo; e, armado d'um fueiro que
descravou d'um carro, partiu muitas cabe�as, e rematou o tragico
espectaculo pela far�a de quebrar todos os cantaros. O povoleu intacto
fugira espavorido, que ninguem se atrevia ao filho do corregedor; os
feridos, por�m, incorporaram-se e foram clamar justi�a � porta do
magistrado.

Domingos Botelho bramia contra o filho, e ordenava ao meirinho geral que
o prendesse � sua ordem. D. Rita, n�o menos irritada, mas irritada como
m�e, mandou, por portas travessas, dinheiro ao filho para que, sem
deten�a, fugisse para Coimbra, e esperasse l� o perd�o do pae.

O corregedor, quando soube o expediente de sua mulher, fingiu-se
zangado, e prometteu fazel-o capturar em Coimbra. Como, por�m, D. Rita
lhe chamasse brutal nas suas vingan�as, e estupido juiz d'uma rapaziada,
o magistrado desenrugou a severidade posti�a da testa, e confessou
tacitamente que era brutal e estupido juiz.




II.


Sim�o Botelho levou de Vizeu para Coimbra as arrogantes convic�es da
sua valentia. Se recordava os chibantes pormenores da derrota em que
pozera trinta aguadeiros, o som cavo das pancadas, a queda atordoada
d'este, o levantar-se d'aquelle ensanguentado, a bordoada que abrangia
tres a um tempo, a que afocinhava dois, a gritaria de todos, e o
estrepito dos cantaros a final, Sim�o deliciava-se n'estas lembran�as,
como ainda n�o vi n'algum drama, em que o veterano de cem batalhas
relembra os lour�s de cada uma, e esmorece, a final, estafado de
espantar, quando n�o � de estafar, os ouvintes.

O academico, por�m, com os seus enthusiasmos era incomparavelmente muito
mais prejudicial e perigoso que o mata-mouros de tragedia. As
recorda�es esporeavam-no a fa�anhas novas, e n'aquelle tempo a academia
dava azo a ellas. A mocidade estudiosa, em grande parte, sympathisava
com as balbuciantes theorias da liberdade, mais por presentimento que
por estudo. Os apostolos da revolu��o franceza n�o tinham podido fazer
reboar o trov�o dos seus clamores n'este canto do mundo; mas os livros
dos encyclopedistas, as fontes onde a gera��o seguinte beb�ra a pe�onha
que sahiu no sangue de noventa e tres, n�o eram de todo ignorados. As
doutrinas da regenera��o social pela guilhotina tinham alguns timidos
sectarios em Portugal, e esses de v�r � que deviam pertencer � gera��o
nova. Al�m de que, o rancor a Inglaterra lavrava nas entranhas das
classes manufactureiras, e o desprender-se do jugo aviltador de
estranhos, apertado, desde o principio do seculo anterior, com as s�gas
de ruinosos e perfidos tractados, estava no animo de muitos e bons
portuguezes que se queriam antes allian�ados com a Fran�a, Estes eram os
pensadores reflexivos; os sectarios da academia, por�m, exprimiam mais a
paix�o da novidade que as doutrinas do raciocinio.

No anno anterior de 1800 sahira Antonio de Araujo de Azevedo, depois
conde da Barca, a negociar em Madrid e Paris a neutralidade de Portugal.
Rejeitaram-lhe as potencias alliadas as propostas, tendo-lhe em conta de
nada os dezeseis milh�es que o diplomata offerecia ao primeiro consul.
Sem delongas, foi o territorio portuguez infestado pelos exercitos de
Hespanha e Fran�a. As nossas tropas, commandadas pelo duque de Laf�es,
n�o chegaram a travar a lucta desigual, porque, a esse tempo, Luiz Pinto
de Sousa, mais tarde visconde de Balsem�o, negociara ignominiosa paz em
Badajoz, com cedencia de Oliven�a � Hespanha, exclus�o de inglezes dos
nossos portos, e indemnisa��o de alguns milh�es � Fran�a.

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Books | Photos | Paul Mutton | Wed 8th Jan 2025, 21:54