Amor de Perdição by Camillo Castello Branco


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Page 43


O corregedor acordara com o grande reboli�o que ia na casa, e perguntou
� esposa, que elle suppunha tambem desperta na camara immediata, que
bulha era aquella. Como ninguem lhe respondesse, sacudiu freneticamente
a campainha, e berrou ao mesmo tempo, aterrado pela hypothese de
incendio na casa. Quando D. Rita acudiu, j� elle estava enfiando os
cal�es �s avessas.

--Que estrondo � este? quem � que grita?--exclamou Domingos Botelho.

--Quem grita mais � o senhor--respondeu D. Rita.

--Sou eu!? Mas quem � que chora?

--S�o suas filhas.

--E porqu�? Diga n'uma palavra.

--Pois sim, direi: o Sim�o matou um homem.

--Em Coimbra?... E fazem tanta bulha por isso!

--N�o foi em Coimbra, foi em Vizeu--tornou D. Rita.

--A senhora manga comigo?! Pois o rapaz est� em Coimbra, e mata em
Vizeu! Ahi est� um caso para que as ordena�es do reino n�o
providenciaram.

--Parece que brinca, Menezes! Seu filho matou na madrugada de hoje
Balthazar Coutinho, sobrinho do Thadeu de Albuquerque.

Domingos Botelho mudou inteiramente de aspecto.

--Foi pr�so?--perguntou o corregedor.

--Est� em casa do juiz de f�ra.

--Mande-me chamar o meirinho geral. Sabe como foi e porque foi essa
morte?!... Mande-me chamar o meirinho, sem demora.

--Porque se n�o veste o senhor, e vai a casa do juiz?

--Que vou eu fazer a casa do juiz?

--Saber de seu filho como isto foi.

--Eu n�o sou pae: sou corregedor. N�o me incumbe a mim interrogal-o,
Senhora D. Rita, eu n�o quero ouvir choradeiras; diga �s meninas que se
calem, ou que v�o chorar no quintal.

O meirinho chamado relatou miudamente o que sabia, e disse ter-se
verificado que o amor � filha do Albuquerque f�ra causa d'aquelle
desastre.

Domingos Botelho, ouvida a historia, disse ao meirinho:

--O juiz de f�ra que cumpra as leis. Se elle n�o f�r rigoroso, eu o
obrigarei a s�l-o.

Ausente o meirinho, disse D. Rita Preciosa ao marido:

--Que significa esse modo de fallar de seu filho?

--Significa que sou corregedor d'esta comarca, e que n�o protejo
assassinos por ciumes, e ciumes da filha de um homem, que eu detesto. Eu
antes queria v�r mil vezes morto Sim�o, que ligado a essa familia.
Escrevi-lhe muitas vezes dizendo-lhe que o expulsava de minha casa, se
alguem me d�sse a certeza de que elle tinha correspondencia com tal
mulher. N�o ha de querer a senhora que eu v� sacrificar a minha
integridade a um filho desobediente, e de mais a mais homicida.

D. Rita, algum tanto por affecto maternal e bastante por espirito de
contradic��o, contendeu largo espa�o; mas desistiu, obrigada pela
insolita pertinacia e c�lera do marido. T�o iracundo e aspero em
palavras nunca o ella vira. Quando lhe elle disse: �Senhora, em coisas
de pouca monta o seu dominio era toleravel; em quest�es de honra, o seu
dominio acabou: Deixe-me!�--D. Rita, quando tal ouviu, e reparou na
physionomia de Domingos Botelho, sentiu-se mulher, e retirou-se.

A ponto foi isto de entrar o juiz de f�ra na sala de espera. O
corregedor foi recebel-o, n�o com o semblante affectuoso de quem vai
agradecer a delicadeza e implorar indulgencia, sen�o que de carrancudo
que ia, mais parec�ra ir elle reprehender o juiz por vir n'aquella
visita dar a crer que a balan�a da justi�a na sua m�o tremia algumas
vezes.

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Books | Photos | Paul Mutton | Sun 21st Dec 2025, 22:54