|
Main
- books.jibble.org
My Books
- IRC Hacks
Misc. Articles
- Meaning of Jibble
- M4 Su Doku
- Computer Scrapbooking
- Setting up Java
- Bootable Java
- Cookies in Java
- Dynamic Graphs
- Social Shakespeare
External Links
- Paul Mutton
- Jibble Photo Gallery
- Jibble Forums
- Google Landmarks
- Jibble Shop
- Free Books
- Intershot Ltd
|
books.jibble.org
Previous Page
| Next Page
Page 40
A rapariga foi contar ao pae as inten�es do academico. Acudiu logo
mestre Jo�o combatendo a ideia da sahida, com encarecer os perigos do
ferimento. Depois, como n�o conseguisse dissuadil-o, resolveu
acompanhal-o. Sim�o agradeceu a companhia, mas rejeitou-a com decis�o. O
ferrador n�o cedia do proposito, e estava j� preparando a clavina, e
arre�oando com medida dobrada a egua--para o que d�sse e viesse--dizia
elle, quando o estudante lhe disse que, melhor avisado, resolv�ra n�o ir
a Vizeu, e seguir Thereza ao Porto, passados os dias da convalescen�a.
Facilmente o acreditou Jo�o da Cruz; mas Marianna, submissa sempre ao
que o seu cora��o lhe bacorejava, duvidou da mudan�a, e disse ao pae que
vigiasse o fidalgo.
�s onze horas da noite ergueu-se o academico, e escutou o movimento
interior da casa: n�o ouviu o mais ligeiro ruido, a n�o ser o rangido da
egua na manjedoura. Escorvou de polvora nova as duas pistolas. Escreveu
um bilhete subscriptado a Jo�o da Cruz, e ajuntou-o � carta que
escrev�ra a Thereza. Abriu as portadas da janella do seu quarto, e
passou d'alli para a varanda de pau, da qual o salto � estrada era sem
risco. Saltou, e tinha dado alguns passos, quando a fresta, lateral �
porta da varanda, se abriu, e a voz de Marianna lhe disse:
--Ent�o adeus, senhor Sim�o. Eu fico pedindo a Nossa Senhora que v� na
sua companhia.
O academico parou, e ouviu voz intima que lhe dizia: �O teu anjo da
guarda falla pela b�ca d'aquella mulher, que n�o tem mais intelligencia
que a do cora��o alumiado pelo seu amor.�
--D� um abra�o em seu pae, Marianna--disse-lhe Sim�o--e adeus... at�
logo, ou....
--At� ao juizo final...--atalhou ella.
--O destino ha de cumprir-se... Seja o que o ceu quizer.
Tinha Sim�o desapparecido nas trevas, quando Marianna accendeu a lampada
do sanctuario, e ajoelhou orando com o fervor das lagrimas.
Era uma hora, e estava Sim�o defronte do convento, contemplando uma a
uma as janellas. Em nenhuma vira clar�o de luz; luz s� a do lampadario
do Sacramento se coava ba�a e pallida na vidra�a d'uma fresta do templo.
Sentou-se nas escaleiras da igreja, e ouviu, ali immovel, as quatro
horas. Das mil vis�es, que lhe relancearam no atribulado espirito, a que
mais a miudo se repetia era a de Marianna supplicante com as m�os
postas; mas, ao mesmo tempo, cria elle ouvir os gemidos de Thereza,
torturada pela saudade, pedindo ao ceu que a salvasse das m�os de seus
algozes. O vulto de Thadeu de Albuquerque, arrastando a filha a um
convento, n�o lhe afogueava a s�de de vingan�a; mas cada vez que lhe
acudia � mente a imagem odiosa de Balthazar Coutinho, instinctivamente
as m�os do academico se asseguravam da existencia das pistolas.
�s quatro horas e um quarto acordou a natureza toda em hymnos e
acclama�es ao radiar da alva. Os passarinhos trinavam na cerca do
mosteiro melodias interrompidas pelo toque solemne das Ave-Marias na
torre. O horisonte pass�ra, de escarlate a alvacento. A purpura da
aurora, como lavareda enorme, desfizera-se em particulas de luz, que
ondeavam no declive das montanhas, e se distendiam nas planicies e nas
varzeas, como se o anjo do Senhor, � voz de Deus, viesse desenrolando
aos olhos da creatura as maravilhas do repontar d'um dia estivo.
E nenhuma d'estas galas do ceu e da terra enlevava os olhos do mo�o
poeta!
�s quatro horas e meia ouviu Sim�o o tinido de liteiras, dirigindo-se
�quelle ponto. Mudou de local, tomando por uma rua estreita, fronteira
ao convento.
Pararam as liteiras vasias na portaria, e logo depois chegaram tres
senhoras vestidas de jornada, que deviam ser as irm�s de Balthazar,
acompanhadas de dois mochilas com as mulas � r�dea. As damas foram
sentar-se nos bancos de pedra, lateraes � portaria. Em seguida abriu-se
a grossa porta, rangendo nos gonzos, e as tres senhoras entraram.
Momentos depois viu Sim�o chegar � portaria Thadeu de Albuquerque
encostado ao bra�o de Balthazar Coutinho. O velho denotava quebranto e
desfallecimento a espa�os. O de Castro-d'Aire, bem composto de figura e
caprichosamente vestido � castelhana, gesticulava com o aprumo de quem
d� as suas irrefutaveis raz�es, e consola tomando a riso a d�r alheia.
--Nada de lamurias, meu tio!--dizia elle--Desgra�a seria v�l-a casada!
Eu prometto-lhe antes de um anno restituir-lh'a curada. Um anno de
convento � um optimo vomitorio do cora��o. N�o ha nada como isso para
limpar o sarro do vicio em cora�es de meninas creadas � discri��o. Se
meu tio a obrigasse, desde menina, a uma obediencia cega, t�l-a-ia agora
submissa, e ella n�o se julgaria authorisada a escolher marido.
Previous Page
| Next Page
|
|