Amor de Perdição by Camillo Castello Branco


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Page 38

--Porque n�o aceita?

--Porque n�o fiz algum favor a v. ex.^a. A receber alguma paga ha de ser
de quem me c� mandou. Fique com Deus, minha senhora, e oxal� que seja
feliz.

Sahiu Thereza, e Joaquina entrou na grade.

--J� te vaes embora, Marianna?

--Vou, que � pressa; um dia virei conversar comtigo muito. Adeus,
Joaquina.

--Pois n�o me contas o que isto �? O amor da fidalga est� perto d'aqui?
Conta, que eu n�o digo nada, rapariga!...

--Outra vez, outra vez; obrigada, Joaquininha.

Marianna, durante a veloz caminhada, foi repetindo o recado da fidalga,
e, se alguma vez se distrahia d'este exercicio de memoria, era para
pensar nas fei�es da amada do seu hospede, e dizer, como em segredo, ao
seu cora��o: �N�o lhe bastava ser fidalga e rica; e, al�m de tudo, linda
como nunca vi outra!� E o cora��o da pobre mo�a, avergando ao que a
consciencia lhe ia dizendo, chorava.

Sim�o, de uma fresta do postigo do seu quarto, espreitava ao longo do
caminho, ou escutava a estropeada da cavalgadura.

Ao descobrir Marianna, desceu ao quinteiro, despresando cautelas, e
esquecido j� do ferimento cuja crise de perigo peor�ra n'aquelle dia,
que era o oitavo depois do tiro.

A filha do ferrador deu o recado, sem altera��o de palavra. Sim�o
escut�ra-a placidamente at� ao ponto em que lhe ella disse que o primo
Balthazar a acompanhava ao Porto.

--O primo Balthazar!...--murmurou elle com um sorriso sinistro--sempre
este primo Balthazar cavando a sua sepultura e a minha!...

--A sua, fidalgo?!--exclamou Jo�o da Cruz--morra elle, que o levem
trinta milh�es de diabos! mas v. s.^a ha de viver em quanto eu f�r Jo�o.
Deixe-a ir para o Porto, que n�o tem perigo no convento. D'hora a hora
Deus melhora. O senhor doutor vai para Coimbra, est� por l� algum tempo,
e �s duas por tres, quando o velho mal se precatar, a fidalguinha
engrampa-o, e � sua como dois e dois serem quatro.

--Eu hei de v�l-a antes de partir para Coimbra--disse Sim�o.

--Olhe que ella recommendou-me muito que n�o fosse l�--acudiu Marianna.

--Por causa do primo?--tornou o academico ironicamente.

--Acho que sim, e por talvez n�o servir de nada l� ir v. s.^a--respondeu
timidamente a mo�a.

--L� se quer--bradou mestre Jo�o--a mulher vai-se-lhe tirar ao caminho.
N�o tem mais que dizer.

--Meu pae! n�o metta este senhor em maiores trabalhos!--disse Marianna.

--N�o tem duvida, menina--atalhou Sim�o--eu � que n�o quero metter
ninguem em trabalhos. Com a minha desgra�a, por maior que ella seja, hei
de eu luctar s�sinho.

Jo�o da Cruz, assumindo uma gravidade de que a sua figura raras vezes se
ennobrecia, disse:

--Senhor Sim�o, v. s.^a n�o sabe nada do mundo. N�o metta s�sinho a
cabe�a aos trabalhos, que elles, como o outro que diz, quando pegam de
ensarilhar um homem, n�o lhe deixam tomar f�lego. Eu sou um rustico;
mas, a bem dizer, estou n'aquella d'aquelle que dizia que o mal dos seus
burrinhos o fizera alveitar. Paix�es, que as leve o diabo, e mais quem
com ellas engorda. Por causa de uma mulher, ainda que ella seja filha do
rei, n�o se ha de um homem botar a perder. Mulheres ha tantas como a
praga, e s�o como as r�s no charco, que mergulha uma, e apparecem quatro
� tona d'agua. Um homem rico e fidalgo como v. s.^a, onde quer topa uma
com um palmo de cara como se quer, e um dote de encher o olho. Deixe-a
ir com Deus ou com a breca, que ella, se tiver de ser sua, � m�o lhe ha
de vir dar, e tanto faz andar p'ra traz como p'ra diante, � dictado dos
antigos. Olhe que isto n�o � m�do, fidalgo; tome sentido, que Jo�o da
Cruz sabe o que � p�r dois homens d'uma feita a olhar o sete-estrello,
mas n�o sabe o que � m�do. Se o senhor quer sahir � estrada e tirar a
tal pessoa ao pae, ao primo, e a um regimento, se f�r necessario, eu vou
montar na egua, e d'aqui a tres horas estou de volta com quatro homens,
que s�o quatro drag�es.

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Books | Photos | Paul Mutton | Sun 21st Dec 2025, 13:30