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Page 34
--Eu n�o fiz isto por interesse, meu pae...--atalhou ella resentida.
--Olha o milagre! isso sei eu; mas, como diz l� o dictado, quem semeia
colhe.
Marianna quedou pensativa, e dizendo entre si:--Ainda bem, que elle n�o
p�de pensar de mim o que meu pae pensa. Deus sabe que n�o tenho
esperan�as nenhumas interesseiras no que fiz.
Sim�o chamou o ferrador, e disse-lhe:
--Meu caro Jo�o, se eu n�o tivesse dinheiro, aceitava sem repugnancia os
seus favores, e creio que vocemec� m'os faria sem esperan�a de ganhar
com elles; mas como recebi esta quantia, ha de consentir que eu lhe d�
parte d'ella para os meus alimentos. Motivos de gratid�o a dividas, que
se n�o pagam, ainda me ficam muitos para nunca me esquecer de si, e da
sua boa filha. Tome este dinheiro.
--As contas fazem-se no fim--respondeu o ferrador, retirando a m�o--e
ninguem nos ha de ouvir, se Deus quizer. Precisando eu de dinheiro c�
venho. Por ora, ainda est� a capoeira cheia de gallinhas, e o p�o
coze-se todas as semanas.
--Mas aceite--instou Sim�o--e d�-lhe a applica��o que quizer.
--Em minha casa ninguem d� leis sen�o eu--replicou o mestre Jo�o, com
simulado enfadamento--Guarde l� o seu dinheiro, fidalgo, e n�o fallemos
mais n'isso, se quer que o negocio v� direito at� ao fim. _E
victo-serio_!
Nos cinco subsequentes dias recebeu Sim�o regularmente cartas de
Thereza, umas resignadas e confortadoras, outras escriptas na violencia
exasperada da saudade. Em uma dizia:
�Meu pae deve saber que est�s ahi, e em quanto ahi estiveres, de certo
me n�o tira do convento. Seria bom que fosses para Coimbra, e
deixassemos esquecer a meu pae os ultimos acontecimentos. Sen�o, meu
querido esposo, nem elle me d� liberdade, nem eu sei como hei de fugir
d'este inferno. N�o fazes ideia do que � um convento! Se eu podesse
fazer do meu cora��o sacrificio a Deus, teria de procurar uma atmosphera
menos viciosa que esta. Creio que em toda a parte se p�de orar e ser
virtuosa, menos n'este convento.�
N'outra carta exprimia-se assim: �N�o me desampares, Sim�o, n�o v�s para
Coimbra. Eu receio que meu pae me queira mudar d'este convento para
outro mais rigoroso. Uma freira me disse que eu n�o ficava aqui; outra
positivamente me affirmou que o pae diligenceia a minha ida para um
convento do Porto. Sobre tudo, o que me aterra, mas n�o me dobra, �
saber eu que o intento do pae � fazer-me professar. Por mais que imagine
violencias e tyrannias, nenhuma vejo capaz de me arrancar os votos. Eu
n�o posso professar sem ser novi�a um anno, e ir a perguntas tres vezes;
hei de responder sempre que n�o. Se eu podesse fugir d'aqui!... Hontem
fui � c�rca, e vi l� uma porta de carro que d� para o caminho. Soube que
algumas vezes aquella porta se abre para entrarem carros de lenha; mas
infelizmente n�o se torna a abrir at� ao principio do inverno. Se n�o
poder antes, meu Sim�o, fugirei n'esse tempo.�
Tiveram entretanto bom e prompto exito as diligencias de Thadeu de
Albuquerque. A prelada de Monchique, religiosa de summas virtudes,
cuidando que a filha de seu primo muito de sua devo��o e amor a Deus, se
recolhia ao mosteiro, preparou-lhe casa e congratulou-se com a sobrinha
de t�o piedosa resolu��o. A carta congratulatoria n�o a recebeu Thereza,
porque viera � m�o de seu pae. Continha ella reflex�es tendentes a
desvanec�l-a do proposito, se algum desgosto passageiro a impellia �
imprudencia de procurar um refugio onde as paix�es se exacerbavam mais.
Tomadas todas as precau�es, Thadeu de Albuquerque fez avisar sua filha
de que sua tia de Monchique a queria ter em sua companhia algum tempo, e
que a partida teria logar na madrugada do seguinte dia.
Thereza, quando recebeu a surprendente nova, j� tinha enviado a carta
d'aquelle dia a Sim�o. Em sua afflictiva perplexidade, resolveu fazer-se
doente, e t�o febril estava das commo�es, que dispensava o artificio. O
velho n�o queria transigir com a doen�a; mas o medico do mosteiro reagiu
contra a deshumanidade do pae e da prioreza interessada na violencia.
Quiz Thereza n'essa noite escrever a Sim�o; mas a criada da prelada,
obedecendo �s suspeitas da ama, n�o desamparou a cabeceira do leito da
enferma. Era causa a esta espionagem ter dito a escriv�, n'nma hora de
m� digest�o d'aquelle vinho estomacal, que Thereza passava as noites em
ora��o mental, e tinha correspondencia com um anjo do c�u por
interven��o d'uma mendiga. Algumas religiosas tinham visto a mendiga no
p�teo do convento esperando a esmola de Thereza; mas cuidaram que era
aquella pobre uma devo��o da menina. As palavras ironicas da escriv�
foram commentadas, e a mendiga recebeu ordem de sahir da portaria.
Thereza, n'um impeto de angustia, quando tal soube, correu a uma
janella, e chamou a pobre, que se retirava assustada, e lan�ou-lhe ao
pateo um bilhete com estas palavras: �� impossivel a nossa
correspondencia. Vou ser tirada d'aqui para outro convento. Espera em
Coimbra noticias minhas.� Isto foi rapidamente ao conhecimento da
prioreza, e logo, �s ordens d'ella, partiu o hortel�o no encal�o da
pobre. O hortel�o seguiu-a at� f�ra de portas, espancou-a, tirou-lhe o
bilhete, e foi do convento apresental-o a Thadeu de Albuquerque. A
mendiga n�o retrocedeu; caminhou a casa do ferrador, e contou a Sim�o o
acontecido.
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