Amor de Perdição by Camillo Castello Branco


Main
- books.jibble.org



My Books
- IRC Hacks

Misc. Articles
- Meaning of Jibble
- M4 Su Doku
- Computer Scrapbooking
- Setting up Java
- Bootable Java
- Cookies in Java
- Dynamic Graphs
- Social Shakespeare

External Links
- Paul Mutton
- Jibble Photo Gallery
- Jibble Forums
- Google Landmarks
- Jibble Shop
- Free Books
- Intershot Ltd

books.jibble.org

Previous Page | Next Page

Page 29

Marianna ouvia o pae, escondendo meio rosto no seu alvissimo avental de
linho. Sim�o estava-se gosando na simpleza d'aquelle quadro rustico, mas
sublime de poesia e naturalidade.

Jo�o da Cruz foi chamado para ferrar um cavallo, e despediu-se n'estes
termos:

--Tenho dito, rapariga; aqui te entrego o nosso doente: trata-o como
quem �, e como se fosse teu irm�o ou marido.

O rosto de Marianna acerejou-se quando aquella ultima palavra sahiu,
natural como todas, da b�ca de seu pae.

A mo�a ficou encostada ao batente da alcova de Sim�o.

--N�o foi nada boa esta praga que lhe cahiu em casa, Marianna!--disse o
academico--Fazerem-na enfermeira d'um doente, e privarem-na talvez de ir
costurar na sua varanda, e conversar com as pessoas que passam....

--Que se me d� a mim d'isso!--respondeu ella, sacudindo o avental, e
baixando o coz ao logar da cintura com infantil gra�a.

--Sente-se, Marianna; seu pae disse-lhe que se sentasse... V� buscar a
sua costura, e d�-me d'alli uma folha de papel e um lapis que est� na
carteira.

--Mas o pae tambem me disse que o n�o deixasse escrever...--replicou
ella, sorrindo.

--Pouco, n�o faz mal. Eu escrevo apenas algumas linhas.

--Veja l� o que faz...--tornou ella, dando-lhe o papel e o lapis--Olhe
se alguma carta se perde, e se descobre tudo...

--Tudo, o qu�, Marianna? Pois sabe alguma coisa?!

--Era preciso que eu fosse tola. Eu n�o lhe disse j� que sabia da sua
amizade a uma menina fidalga da cidade?

--Disse; mas que tem isso?

--Aconteceu o que eu receava. V. s.^a est� ahi ferido, e toda a gente
falla n'uns homens que appareceram mortos.

--Que tenho eu com os homens que appareceram mortos?

--Para que est� a fingir-se de novas?! Pois eu n�o sei que esses homens
eram criados do primo da tal senhora? Parece que v. s.^a desconfia de
mim, e est� a querer guardar um segredo que eu tom�ra que ninguem
soubesse, para que meu pae e o senhor Sim�o n�o tenham alguns maiores
trabalhos...

--Tem raz�o, Marianna, eu n�o devia esconder de si o mau encontro que
tivemos...

--E Deus queira que seja o ultimo!... Tanto tenho pedido ao Senhor dos
Passos que lhe d� remedio a essa paix�o!... O peor futuro eu que ainda
est� por passar...

--N�o, menina, isto acaba assim: eu vou para Coimbra, logo que esteja
bom, e a menina da cidade fica em sua casa.

--Se assim f�r, j� prometti dois arrateis de c�ra ao Senhor dos Passos;
mas n�o me diz o cora��o que v. s.^a fa�a o que diz...

-Muito agradecido lhe estou-disse Sim�o commovido--pelo bem que me
deseja. N�o sei o que lhe fiz para lhe merecer a sua amizade.

--Basta v�r o que seu paesinho fez pelo meu--disse ella, limpando as
lagrimas.--O que seria de mim, se me elle faltasse, e se fosse � forca
como toda a gente dizia!... Eu era ainda muito nova quando elle estava
na enxovia. Teria treze annos; mas estava resolvida a atirar-me ao po�o,
se elle fosse condemnado � morte. Se o degradassem, ent�o ia com elle,
ia morrer onde elle fosse morrer. N�o ha dia nenhum que eu n�o pe�a a
Deus que d� a seu pae tantos prazeres como estrellas tem o ceo. Fui de
proposito � cidade para beijar os p�s a sua m�esinha, e vi suas manas, e
uma, que era a mais nova, deu-me uma saia de lapim, que eu ainda alli
tenho guardada como uma reliquia. Depois, cada vez que ia � feira, dava
uma grande volta para v�r se acertava de encontrar a senhora D. Ritinha
� janella; e muitas vezes vi o senhor Sim�o. E talvez n�o saiba que eu
estava a beber na fonte, quando v. s.^a, ha dois para tres annos, deu
muita pancada nos criados, que era mesmo um reboli�o que parecia o fim
do mundo. Eu vim contar ao pae, e elle at� cahiu ao ch�o a dar risadas
como um doido... Depois nunca mais o vi sen�o quando v. s.^a entrou com
o tio de Coimbra; mas j� sabia que vinha para esta desgra�a, porque
tinha tido um sonho, em que via muito sangue, e eu estava a chorar,
porque via uma pessoa muito minha amiga a cahir n'uma cova muito
funda...

Previous Page | Next Page


Books | Photos | Paul Mutton | Sat 20th Dec 2025, 4:14