Amor de Perdição by Camillo Castello Branco


Main
- books.jibble.org



My Books
- IRC Hacks

Misc. Articles
- Meaning of Jibble
- M4 Su Doku
- Computer Scrapbooking
- Setting up Java
- Bootable Java
- Cookies in Java
- Dynamic Graphs
- Social Shakespeare

External Links
- Paul Mutton
- Jibble Photo Gallery
- Jibble Forums
- Google Landmarks
- Jibble Shop
- Free Books
- Intershot Ltd

books.jibble.org

Previous Page | Next Page

Page 24

--Ent�o vista-se, e n�o me d� leis.

--Mas, meu pae, attenda-me um momento.

--Diga.

--Se a sua ideia � obrigar-me a casar com meu primo...

--E d'ahi?

--De certo n�o caso; morro, e morro contente; mas n�o caso.

--Nem elle a quer. A senhora � indigna de Balthazar Coutinho. Um homem
do meu sangue n�o aceita para esposa uma mulher que falla de noite aos
amantes nos quintaes. Vista-se depressa, que vai para um convento.

--Promptamente, meu pae. Esse destino lh'o pedi eu muitas vezes.

--N�o quero reflex�es. D'aqui a pouco appare�a-me vestida. Suas primas
esperam-a para a acompanharem.

Quando se viu s�sinha, Thereza debulhou-se em lagrimas, e quiz escrever
a Sim�o. �quella hora quem lhe levaria a carta? Appellou para o retabulo
da Virgem, que ella fizera confidente do seu amor. Pediu-lhe de joelhos
que a protegesse, e d�sse for�as a Sim�o para resistir ao golpe, e
guardar-lhe constancia atrav�s dos trabalhos que succedessem. Depois
vestiu-se, comprimindo contra o seio um embrulho em que levava o
tinteiro, o papel, e o mass�te das cartas de Sim�o. Sahiu do seu quarto,
relanceando os olhos lagrimosos para o painel da Virgem, e encontrando o
pae, pediu-lhe licen�a para levar comsigo aquella devota imagem.

--L� ir� ter--respondeu elle.--Se tivesse tanta vergonha como devo��o,
seria mais feliz do que ha de ser.

Uma das primas, irm�s de Balthazar, chamou-a de parte, e segredou-lhe:

--� menina! estava ainda na tua m�o dares remedio � desordem d'esta
casa...

--Qual remedio?!--perguntou Thereza com artificial seriedade.

--Diz a teu pae que n�o duvidas casar com o mano Balthazar.

--O primo Balthazar n�o me quer--replicou ella, sorrindo.

--Quem te disse isso, Therezinha?

--Disse-m'o meu pae.

--Deixa fallar teu pae, que est� desatinado com o amor que te tem.
Queres tu que eu lhe falle?

--Para que?

--Para se remediar d'este modo a desgra�a de todos n�s.

--Est�s a brincar, prima!--redarguiu Thereza.--Eu hei de ser tua
cunhada, quando n�o tiver cora��o. Teu mano tem a certeza de que eu amo
outro homem. Queria viver para elle; mas se quizerem que eu morra por
elle, aben�oarei todos os meus algozes. P�des dizer isto ao primo
Balthazar, e diz-lh'o antes que te esque�a.

--Ent�o, vamos?!--disse o velho.

--Estou prompta, meu pae.

Abriu-se a portaria do mosteiro. Thereza entrou sem uma lagrima. Beijou
a m�o de seu pae, que elle n�o ousou recusar-lhe na presen�a das
freiras. Abra�ou suas primas, com semblante de regosijo; e, ao fechar-se
a porta, exclamou, com grande espanto das monjas:

--Estou mais livre que nunca. A liberdade do cora��o � tudo.

As freiras olharam-se entre si, como se ouvissem na palavra �cora��o�
uma heresia, uma blasphemia proferida na casa do Senhor.

--Que diz a menina?!--perguntou a prioreza, fitando-a por cima dos
oculos, e apanhando no len�o escarlate a distilla��o do esturrinho.

--Disse eu que me sentia aqui muito bem, minha senhora.

Previous Page | Next Page


Books | Photos | Paul Mutton | Fri 19th Dec 2025, 18:38