|
Main
- books.jibble.org
My Books
- IRC Hacks
Misc. Articles
- Meaning of Jibble
- M4 Su Doku
- Computer Scrapbooking
- Setting up Java
- Bootable Java
- Cookies in Java
- Dynamic Graphs
- Social Shakespeare
External Links
- Paul Mutton
- Jibble Photo Gallery
- Jibble Forums
- Google Landmarks
- Jibble Shop
- Free Books
- Intershot Ltd
|
books.jibble.org
Previous Page
| Next Page
Page 15
Respondeu elle contando a historia do incidente com o encapelado;
receando, por�m, assustar Thereza e gorar a entrevista, escreveu nova
carta, em que n�o transluzia m�do de ser atacado, nem sequer receio de
marear-lhe a fama. Quiz parecer a Sim�o Botelho que este era o digno
porte de um amante corajoso.
Passou o estudante aquel�e dia contando as longas horas, e meditando
instantes nos funestos resultados que podia ter a sua temeraria ida, se
Balthazar Coutinho era aquelle homem, que reserv�ra para melhor relance
a vingan�a da provoca��o insolente. Mas de si para si tinha elle que
pensar em tal era mais covardia que prudencia.
O ferrador tinha uma filha, mo�a de vinte e quatro annos, e formas
bonitas, e um rosto bello e triste. Notou Sim�o os reparos em que ella
se demorava a contemplal-o, e perguntou-lhe a causa d'aquelle olhar
melancolico com que ella o fitava. Marianna corou, abriu um sorriso
triste, o respondeu:
--N�o sei o que me adivinha o cora��o a respeito de v. s.^a Alguma
desgra�a est� para lhe succeder.
--A menina n�o dizia isso--replicou Sim�o--sem saber alguma coisa da
minha vida.
--Alguma coisa sei...--tornou ella.
--Ouviu contar ao arreeiro?
--N�o, senhor. E' que meu pae conhece o paesinho de v. s.^a, e tambem
conhece o senhor. E ha bocadinho que eu ouvi estar meu pae a dizer a meu
tio, que � o arreeiro que veio com v. s.^a, que tinha suas raz�es para
saber que alguma desgra�a lhe estava para acontecer...
--Porque?
--Pr'amor d'uma fidalga de Vizeu, que tem um primo em Castro-d'Aire.
Sim�o espantou-se da publicidade do seu segredo, e ia colher pormenores
do que elle julgava mysterio entre duas familias, quando o mestre
ferrador Jo�o da Cruz entrou no sobrado, onde o precedente dialogo se
pass�ra. A m��a, como ouvisse os passos do pae, sahira lestamente por
outra porta.
--Com sua licen�a--disse mestre Jo�o.
Dizendo, fechou por dentro ambas as portas, e sentou-se sobre uma arca.
--Ora, meu fidalgo--continuou elle, descendo as mangas arrega�adas da
camiza, e apertando-as com difficuldade nos grossos pulsos, como quem
sabe as exigencias da ceremonia--ha de desculpar que eu viesse assim em
mangas de camiza; mas n�o dei com a jaqueta...
--Est� muito bem, senhor Jo�o--atalhou o academico.
--Pois, senhor, eu devo um favor a seu pae, e um favor d'aquella casta.
Uma vez armou-se aqui � minha porta uma desordem, a tr�co d'um couce que
um macho d'um almocreve deu n'uma egua, que eu estava ferrando, e em t�o
hoa hora foi, que lhe partiu rente o jarr�te por aqui, salvo tal logar.
Jo�o da Cruz mostrou na sua perna o ponto por onde f�ra fracturada a da
egua, e continuou:
--Eu tinha alli � m�o o martello, e n�o me tive que n�o pregasse com
elle na cabe�a do macho, que foi logo para a terra. O recoveiro de
Car��o, que era chibante, deitou as unhas a um bacamarte, que trazia
entre uma carga, e desfechou comigo, sem mais tirte, nem garte. O' alma
damnada!--disse-lhe eu--pois tu v�s que o teu macho me aleijou esta
egua, que custou vinte pe�as a seu dono, e que eu tenho de pagar, e
d�s-me um tiro por eu te atordoar o macho!?
--E o tiro acertou-lhe?--atalhou Sim�o.
--Acertou; mas saber� v. s.^a que me n�o matou; deu-me aqui por este
bra�o esquerdo com dois quartos. E vai eu, entro em casa, vou �
cabeceira da cama, e trago uma clavina, e desfecho-lh'a na t�boa do
peito. O almocreve cahiu como um t�rdo, e n�o tugiu nem mugiu.
Prenderam-me, e fui para Vizeu e j� l� estava ha tres annos, no anno em
que o paesinho de v. s.^a veio corregedor. Andava muita gente a
trabalhar contra mim, e todos me diziam que eu ia pernear na forca.
Estava l� na enxovia comigo um pr�so a cumprir senten�a, e disse-me elle
que o senhor corregedor tinha muita devo��o com as sete d�res de Nossa
Senhora. Uma vez que elle ia passando com a familia para a missa,
disse-lhe eu �senhor Corregedor, pe�o a v. s.^a pelas sete d�res de
Maria Santissima, que me mande ir � sua presen�a, para eu explicar a
minha culpa a v.s.^a�. O paesinho de v. s.^a chamou o meirinho geral, e
mandou tomar o meu nome. Ao outro dia fui chamado ao senhor Corregedor,
e contei-lhe tudo, mostrando-lhe ainda as cicatrizes do bra�o. Seu pae
ouviu-me, e disse-me. �Vai-te embora, que eu farei o que pod�r.� O caso
�, meu fidalgo, que eu sahi absolvido, quando muita gente dizia que eu
havia de ser inforcado � minha porta. Faz favor de me dizer se eu n�o
devo andar com a cara onde o seu paesinho p�e os p�s!?
Previous Page
| Next Page
|
|