|
Main
- books.jibble.org
My Books
- IRC Hacks
Misc. Articles
- Meaning of Jibble
- M4 Su Doku
- Computer Scrapbooking
- Setting up Java
- Bootable Java
- Cookies in Java
- Dynamic Graphs
- Social Shakespeare
External Links
- Paul Mutton
- Jibble Photo Gallery
- Jibble Forums
- Google Landmarks
- Jibble Shop
- Free Books
- Intershot Ltd
|
books.jibble.org
Previous Page
| Next Page
Page 12
--E n�o ser� mais certo odial-o eu sempre!? Eu agora mesmo o abomino
como nunca pensei que se podesse abominar! Meu pae...--continuou ella,
chorando, com as m�os erguidas--mate-me; mas n�o me force a casar com
meu primo! E' escusada a violencia, porque eu n�o caso!..
Thadeu mudou de aspecto, e disse irado:
--H�s de casar! Quero que cases! Quero!... Quando n�o, amaldi�oada ser�s
para sempre, Thereza! Morrer�s n'um convento! Esta casa ir� para teu
primo! Nenhum infame ha de aqui p�r um p� nas alcatifas de meus av�s. Se
�s uma alma vil, n�o me pertences, n�o �s minha filha, n�o podes herdar
appellidos honrosos, que foram pela primeira vez insultados pelo pae
d'esse miseravel que tu amas! Maldita sejas! Entra n'esse quarto, e
espera que d'ahi te arranquem para outro, onde n�o ver�s um raio de sol.
Thereza ergueu-se sem lagrimas, e entrou serenamente no seu quarto.
Thadeu de Albuquerque foi encontrar seu sobrinho, e disse-lhe:
--N�o te posso dar minha filha, porque j� n�o tenho filha. A miseravel,
a quem dei este nome, perdeu-se para n�s e para ella.
Balthazar, que, a juizo de seu tio, era um composto de excellencias,
tinha apenas uma quebra: a absoluta carencia de brios. Malograda a
tentativa do seu amor de emboscada, tornou para a terra o primo de
Thereza, dizendo ao velho que elle o livraria do assedio em que Sim�o
Botelho lhe tinha o cora��o da filha. N�o approvou a reclus�o no
convento, discorrendo sobre as hypotheses infamantes que a opini�o
publica inventaria. Aconselhou que a deixasse estar em casa, e esperasse
que o filho do corregedor viesse de Coimbra.
Ponderaram no animo do velho as raz�es de Balthazar. Thereza
maravilhou-se da quieta��o inesperada de seu pae, e desconfiou da
incoherencia. Escreveu a Sim�o. Nada lhe escondeu do succedido; nem as
amea�as de Balthazar por delicadeza supprimiu. Rematava communicando-lhe
as suas suspeitas de alguma nova tra�a de violencia melhor agourada.
O academico, chegando ao periodo das amea�as, j� n�o tinha clara luz nos
olhos para decifrar o restante da carta. Tremia sez�es, e as art�rias
frontaes arfavam-lhe entumecidas. N�o era sobresalto do cora��o
apaixonado: era a indole soberba que lhe escaldava o sangue. Ir d'ali a
Castro-d'Aire, e apunhalar o primo de Thereza na sua propria casa, foi o
primeiro conselho, que lhe segredou a furia do odio. N'este proposito
sahiu, alugou cavallo, e recolheu a vestir-se de jornada. J� preparado,
a cada minuto de espera assomava-se em frenesis. O cavallo demorou-se
meia hora, e o seu bom anjo, n'este espa�o, vestido com as galas com que
elle vestia na imagina��o Thereza, deu-lhe rebates de saudade d'aquelles
tempos e ainda das horas d'aquelle mesmo dia, em que scismava na
felicidade que o amor lhe promettia, se a elle procurasse no caminho do
trabalho e da honra. Contemplou os seus livros com tanto affecto, como
se em cada um estivesse uma pagina da historia do seu cora��o. Nenhuma
d'aquellas paginas tinha elle lido, sem que a imagem de Thereza lhe
apparecesse a fortalec�l-o para vencer os t�dios da continuada
applica�ao, e os impetos d'um natural inquieto e ancioso de commo�es
desusadas. �E ha de tudo acabar assim?�--pensava elle, com a face entre
as m�os, encostado � sua banca de estudo.--�Ainda ha pouco eu era t�o
feliz!...�--�Feliz!�--repetiu elle erguendo-se de golpe--�quem p�de ser
feliz com a deshonra d'uma amea�a impune!... Mas eu perco-a! Nunca mais
hei de v�l-a... Fugirei como um assassino, e meu pae ser� o meu primeiro
inimigo, e ella mesma ha de horrorisar-se da minha vingan�a... A amea�a
s� ella a ouviu; e, se eu tivesse sido aviltado no conceito de Thereza,
pelos insultos do miseravel, talvez que ella os n�o repetisse...�
Sim�o Botelho releu a carta duas vezes, e � terceira leitura achou menos
affrontosas as bravatas do fidalgo cioso. As linhas finaes desmentiam
formalmente a suspeita do aviltamento, com que o seu orgulho o
atormentava: eram express�es ternas, supplicas ao seu amor como
recompensa dos passados e futuros desgostos, vis�es encantadoras do
futuro, novos juramentos de constancia, e sentidas phrases de saudade.
Quando o arreeiro bateu � porta, Sim�o Botelho j� n�o pensava em matar o
homem de Castro-d'Aire; mas resolv�ra ir a Vizeu, entrar de noite,
esconder-se e v�r Thereza. Faltava-lhe, por�m, casa de confian�a onde se
occultasse. Nas estalagens, seria logo descoberto. Perguntou ao arreeiro
se conhecia alguma casa em Vizeu onde elle podesse estar escondido uma
noite ou duas, sem receio de ser denunciado. O arreeiro respondeu que
tinha a um quarto de legua de Vizeu um primo ferrador; e n�o conhecia em
Vizeu sen�o os estalajadeiros. Sim�o achou de aproveitar o parentesco do
homem, e logo d'alli o presenteou com uma jaqueta de pelles e uma faxa
de s�da escarlate, � conta de maiores valores promettidos, se elle o bem
servisse n'uma empreza amorosa.
Previous Page
| Next Page
|
|