Amor de Perdição by Camillo Castello Branco


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Page 11

O cora��o de Thereza estava mentindo. V�o l� pedir sinceridade ao
cora��o!

Para finos entendedores, o dialogo do anterior capitulo definiu a filha
de Thadeu de Albuquerque. � mulher varonil, tem for�a de caracter,
orgulho fortalecido pelo amor, desp�go das vulgares apprehens�es, se s�o
apprehens�es a renuncia que uma filha faz de sua vontade �s
imprevidentes e caprichosas vontades de seu pae. Diz boa gente que n�o,
e eu abundo sempre no voto da gente boa. N�o ser� aleive attribuir-lhe
uma pouca de astucia, ou hypocrisia, se quizerem; perspicacia seria mais
correcto dizer. Thereza adivinha que a lealdade trope�a a cada passo na
estrada real da vida, e que os melhores fins se attingem por atalhos
onde n�o cabem a franqueza e a sinceridade. Estes ardis s�o raros na
idade inexperta de Thereza; mas a mulher do romance quasi nunca �
trivial, e esta, de que resam os meus apontamentos, n�o o era. A mim me
basta para cr�r em sua distinc��o a celebridade que ella veio a ganhar �
conta da desgra�a.

Da carta que ella escreveu a Sim�o Botelho, contando as scenas
descriptas, a critica deduz que a menina de Vizeu contemporisava com o
pae, pondo a mira no futuro, sem passar pelo dissabor do convento, nem
romper com o velho em manifesta desobediencia. Na narrativa que fez ao
academico omittiu ella as amea�as do primo Balthazar, clausula que, a
ser transmittida, arrebataria de Coimbra o mo�o, em que sobejavam brios
e ferocidade para mant�l-os.

Mas n�o � esta ainda a carta que surprendeu Sim�o Botelho.

Parecia bonan�oso o ceo de Thereza. Seu pae n�o fallava em claustro, nem
em casamento. Balthazar Coutinho volt�ra ao seu solar de Castro-d'Aire.
A tranquilla menina dava semanalmente estas boas novas a Sim�o, e este,
alliando �s venturas do cora��o as riquezas do espirito, estudava
incessantemente, e desvelava as noites arquitectando o seu edif�cio de
futura gloria.

Ao romper d'alva, d'um domingo de Junho de 1803, foi Thereza chamada
para ir com seu pae � primeira missa da igreja parochial. Vestiu-se a
menina assustada, e encontrou o velho na ante-camara a receb�l-a com
muito agrado, perguntando-lhe se ella se erguia de bons humores para dar
ao author de seus dias um resto de velhice feliz. O silencio de Thereza
era interrogador.

--Vais hoje dar a m�o de esposa a teu primo Ballhazar, minha filha. �
preciso que te deixes cegamente levar pela m�o de teu pae. Logo que
d�res este passo difficil, conhecer�s que a tua felicidade � d'aquellas
que precisam ser impostas pela violencia. Mas repara, minha querida
filha, que a violencia de um pae � sempre amor. Amor tem sido a minha
condescendencia e brandura para comtigo. Outro teria subjugado a tua
desobediencia com maus tractos, com os rigores do convento, e talvez com
o desfalque do teu grande patrimonio. Eu, n�o. Esperei que o tempo te
aclarasse a raz�o, e felicito-me de te julgar desassombrada do diabolico
prestigio do maldito, que acordou o teu innocente cora��o. N�o te
consultei outra vez sobre este casamento, por temer que a reflex�o
fizesse mal ao fervor de boa filha com que tu vais abra�ar teu pae, e
agradecer-lhe a sisudez com que elle respeitou o teu genio, velando
sempre a hora de te encontrar digna do seu amor.

Thereza n�o desfitou os olhos do pae; mas t�o abstrahida estava, que
escassamente lhe ouviu as primeiras palavras, e nada das ultimas.

--N�o me respondes, Thereza?!- tornou Thadeu, tomando-lhe caridosamente
as m�os.

--Que hei-de eu responder-lhe, meu pae?--balbuciou ella.

--D�s-me o que te pe�o? enches de contentamento os poucos dias que me
restam?

--E ser� o pae feliz com o meu sacrificio?

--N�o digas sacrificio, Thereza... A'manh� a estas horas ver�s que
transfigura��o se fez na tua alma. Teu primo � um composto de todas as
virtudes; nem a qualidade de ser um gentil mo�o lhe falta, como se a
riqueza, a sciencia e as virtudes n�o bastassem a formar um marido
excellente.

--E elle quer-me, depois de eu me ter negado?--disse ella com amargura
ironica.

--Se elle est� apaixonado, filha!... e tem bastante confian�a em si para
cr�r que tu has de amal-o muito!...

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Books | Photos | Paul Mutton | Wed 10th Sep 2025, 10:23