Amor de Perdição by Camillo Castello Branco


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Page 10

Visivel � que Balthazar Coutinho estava senhor do segredo de Thereza.
Seu tio, naturalmente, lhe communicara a criancice da prima, talvez
antes de destinar-lh'a esposa.

Ouvira Thereza o tom sarcastico d'aquellas palavras, e ergu�ra-se
respondendo assim com altivez:

--N�o tem mais que me diga, primo Balthazar?

--Tenho, prima: queira sentar-se algum tempo mais. N�o cuide agora que
est� fallando com o namorado infeliz: conven�a-se de que falla com o seu
mais proximo parente e mais sincero amigo, e mais decidido guarda da sua
dignidade e fortuna. Eu sabia que minha prima, contra a expressa vontade
de seu pae, uma ou outra vez convers�ra da janella com o filho do
corregedor. N�o dei valor ao successo, e tomei-o como criancice. Como eu
frequentasse o meu ultimo anno em Coimbra, ha dois annos conheci de
sobra Sim�o Botelho. Quando vim e me contaram a sua affei��o ao
academico, pasmei da boa f� da priminha; depois entendi que a sua mesma
innocencia devia ser o seu anjo custodio. Agora, como seu amigo,
cumpunjo-me de a v�r ainda fascinada pela perversidade do seu visinho.
N�o se recorda de ter visto Sim�o Botelho sociando com a infima
vilanagem d'esta terra? N�o viu os seus criados com as cabe�as quebradas
pelo tal varredor de feiras? N�o lhe constou que elle, em Coimbra,
abarrotado de vinho, andava pelas ruas armado como um salteador de
estradas, proclamando � canalha a guerra aos nobres, e aos reis, e �
religi�o de nossos paes? A prima ignoraria isto por ventura?

--Ignorava parte d'isso, e n�o me afflige o sab�l-o. Desde que conheci
Sim�o, n�o me consta que elle tenha dado o menor desgosto � sua familia,
nem ou�o fallar mal d'elle.

--E est� por isso persuadida de que Sim�o deve ao seu amor a reforma de
costumes?

--N�o sei, nem penso n'isso--replicou com enfado Thereza.

--N�o se zangue, prima. Vou-lhe dizer as minhas ultimas palavras: eu hei
de, em quanto viver, trabalhar para salval-a das garras de Sim�o
Botelho. Se seu pae lhe faltar, fico eu. Se as leis a n�o defenderem dos
ataques do seu demonio, eu farei v�r ao valent�o que a victoria sobre os
aguadeiros n�o o poupa ao desgosto de ser levado a pontap�s para f�ra da
casa de meu tio Thadeu d'Albuquerque.

--Ent�o o primo quer-me governar?--atalhou ella com desabrida irrita��o.

--Quero-a dirigir em quanto a sua raz�o precisar de auxilio. Tenha
juizo, e eu serei indifferente ao seu destino. N�o a enfado mais, prima
Thereza.

Balthazar Coutinho foi d'ali procurar seu tio, e contou-lhe o essencial
do dialogo. Thadeu, atonito da coragem da filha, e ferido no cora��o e
direitos paternaes, correu ao quarto d'ella, disposto a espancal-a.
Reteve-o Balthazar, reflexionando-lhe que a violencia prejudicaria muito
a crise, sendo coisa de esperar que Thereza fugisse de casa. Refreou o
pae a sua ira, e meditou. Horas depois chamou sua filha, mandou-a sentar
ao p� de si, e em termos serenos e gesto bem composto, lhe disse que era
sua vontade casal-a com o primo; por�m que elle j� sabia que a vontade
de sua filha n�o era essa. Ajuntou que a n�o violentaria; mas tambem n�o
consentiria que ella, sovando aos p�s o pundonor de seu pae, se d�sse de
cora��o ao filho do seu maior inimigo. Disse mais que estava a resvalar
na sepultura, e mais depressa desceria a ella, perdendo o amor da filha,
que elle j� considerava morta. Terminou perguntando a Thereza, se ella
duvidava entrar n'um convento, e ahi esperar que seu pae morresse, para
depois ser desgra�ada � sua vontade.

Thereza respondeu, chorando, que entraria n'um convento, se essa era a
vontade de seu pae; por�m que se n�o privasse elle de a ter em sua
companhia, nem a privasse a ella dos seus affectos, por m�do de que sua
filha praticasse alguma ac��o indigna, ou lhe desobedecesse no que era
virtude obedecer. Prometteu-lhe julgar-se morta para todos os homens,
menos para seu pae.

Thadeu ouviu-a, e n�o lhe replicou.




IV.


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Books | Photos | Paul Mutton | Wed 10th Sep 2025, 3:21