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Page 8
� porta, uma pobre toda de luto, com o filho encolhido ao seio,
estendeu-me a m�o transparente. Incommodava-me procurar os trocos de
cobre por entre os meus punhados d'oiro. Repelli-a, impaciente: e, de
chap�o sobre o olho, encarei friamente a turba.
Foi ent�o que avistei, adiantando-se, o vulto ponderoso do meu Director
Geral: immediatamente, achei-me com o dorso curvado em arco e o chap�o
comprimentador ro�ando as lages. Era o habito da dependencia: os meus
milh�es n�o me tinham dado ainda a verticalidade � espinha...
Em casa despejei o oiro sobre o leito, e rolei-me por cima d'elle, muito
tempo, grunhindo n'um gozo surdo. A torre, ao lado, bateu tres horas; e
o sol apressado j� descia, levando comsigo o meu primeiro dia de
opulencia... Ent�o, coura�ado de libras, corri a saciar-me!
Ah, que dia! Jantei n'um gabinete do Hotel Central, solitario e egoista,
com a mesa alastrada de Bordeus, Borgonha, Champagne, Rheno, lic�res de
todas as communidades religiosas--como para matar uma s�de de trinta
annos! Mas s� me fartei de Collares. Depois, cambaleando, arrastei-me
para o Lupanar! Que noite! A alvorada clareou por traz das persianas; e
achei-me estatelado no tapete, exhausto e semi-n�, sentindo o corpo e a
alma como esva�rem-se, dissolverem-se n'aquelle ambiente abafado onde
errava um cheiro de p� de arroz, de f�mea e de punch...
Quando voltei � travessa da Concei��o, as janellas do meu quarto estavam
fechadas, e a v�la expirava, com fogachos lividos, no casti�al de lat�o.
Ent�o ao chegar junto � cama, vi isto: estirada de trav�s, sobre a
coberta, jazia uma figura bojuda, de Mandarim fulminado, vestida de s�da
amarella, com um grande rabicho solto; e entre os bra�os como morto
tambem, tinha um papagaio de papel!
Abri desesperadamente a janella: tudo desappareceu;--o que estava agora
sobre o leito era um velho paletot alvadio.
III
Ent�o come�ou a minha vida de milionario. Deixei bem depressa a casa da
Madame Marques--que, desde que me sab�a rico, me tratava todos os dias a
arroz d�ce, e ella mesma me servia, com o seu vestido de s�da dos
domingos. Comprei, habitei o palacete amarello, ao Loreto: as
magnificencias da minha installa��o s�o bem conhecidas pelas gravuras
indiscretas da Illustra��o Franceza. Tornou-se famoso na Europa o meu
leito, d'um gosto exuberante e barbaro, com a barra recoberta de laminas
d'ouro lavrado, e cortinados d'um raro brocado negro onde ondeam,
bordados a perolas, versos eroticos de Catullo; uma lampada, suspensa no
interior, derrama alli a claridade lactea e amorosa d'um luar de ver�o.
Os meus primeiros mezes ricos, n�o o occulto, passei-os a amar--a amar
com o sincero bater de cora��o d'um pagem inexperiente. Tinha-a visto,
como n'uma pagina de novella, regando os seus craveiros � varanda:
chamava-se Candida; era pequenina, era loira; morava a Buenos-Ayres,
n'uma casinha casta recoberta de trepadeiras; e lembrava-me pela gra�a e
pelo airoso da cinta, tudo o que a Arte tem creado de mais fino e
fragil--Mimi, Virginia, a Joanninha do Valle de Santarem.
Todas as noites eu cahia, em extasis de mystico, aos seus p�s c�r de
jaspe. Todas as manh�s lhe alastrava o rega�o de notas de vinte mil
reis: ella repellia-as primeiro com um rubor,--depois, ao guardal-as na
gaveta, chamava-me o seu _anjo T�t�_.
Um dia que eu me introduzira, a passos subtis, por sobre o espesso
tapete syrio, at� ao seu _boudoir_--ella estava escrevendo, muito
enlevada, de dedinho no ar: ao v�r-me, toda tremula, toda pallida,
escondeu o papel que tinha o seu monogramma. Eu arranquei-lh'o, n'um
ciume insensato. Era a carta, a carta costumada, a carta necessaria, a
carta que desde a velha antiguidade a mulher sempre escreve; come�ava
por _meu idolatrado_--e era para um alferes da visinhan�a...
Desarraiguei logo esse sentimento do meu peito como uma planta venenosa.
Descri para sempre dos Anjos loiros, que conservam no olhar azul o
reflexo dos c�os atravessados: de cima do meu oiro, deixei cahir sobre a
Innocencia, o Pudor, e outras idealisa�es funestas acida gargalhada de
Mephistopheles: e organisei friamente uma existencia animal, grandiosa e
cynica.
* * * * *
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