O Mandarim by Eça Queirós


Main
- books.jibble.org



My Books
- IRC Hacks

Misc. Articles
- Meaning of Jibble
- M4 Su Doku
- Computer Scrapbooking
- Setting up Java
- Bootable Java
- Cookies in Java
- Dynamic Graphs
- Social Shakespeare

External Links
- Paul Mutton
- Jibble Photo Gallery
- Jibble Forums
- Google Landmarks
- Jibble Shop
- Free Books
- Intershot Ltd

books.jibble.org

Previous Page | Next Page

Page 21

Mas j� o zeloso Camilloff, de lapis na m�o, ia marcando no mappa o meu
itiner�rio para Tien-H�! E mostrando-me, n'um desagradavel
entrela�amento, sombras de montes, linhas tortuosas de rios, esfumados
de lag�as:

--Aqui est�! O meu hospede sobe at� Ni-ku-h�, na margem do Pei-H�...
D'ahi, em barcos chatos vai a My-yun. Boa cidade, ha l� um Buddha
vivo... D'ahi, a cavallo, segue at� � fortaleza de Ch�-hia. Passa a
grande muralha, famoso espect�culo!... Descan�a no forte de Ku-pi-h�.
P�de l� ca�ar a gazella. Soberbas gazellas... E com dois dias de
caminhada est� em Tien-H�... Brilhante, hein?... Quando quer partir?
�manh�?...

--�manh�--rosnei, tristonho.

Pobre generala! N'essa noite, em quanto Meriskoff, ao fundo da sala,
fazia com tres officiaes da embaixada o seu _whist_ sacramental; e
Camilloff, ao canto do soph�, de bra�os cruzados, solemne como n'uma
poltrona do Congresso de Vienna, dormia de bocca aberta;--ella sentou-se
ao piano. Eu ao lado, na attitude d'um Lara, devastado pela fatalidade,
retorcia lugubremente o bigode. E a d�ce creatura, entre dois gemidos do
teclado, d'uma saudade penetrante, cantou revirando para mim os seus
olhos rebrilhantes e humidos:

L'oiseau s'envole,
L� bas, l� bas!...
L'oiseau s'envole...
Ne revient pas...

--A ave ha-de voltar ao ninho,--murmurei eu enternecido.

E, afastando-me a esconder uma lagrima, ia resmungando furioso:

--Canalha de Ti-Chin-F�! Por tua causa! Velho malandro! Velho garoto!...

* * * * *

Ao outro dia l� vou para Tien-H�--com o respeitoso interprete S�-t�, uma
longa fila de carretas, dois cossacos, toda uma popula�a de koulis.

Ao deixar a muralha da cidade tartara, seguimos muito tempo ao comprido
dos jardins sagrados que orlam o templo de Confucio.

Era no fim do outono; j� as folhas tinham amarellecido; uma do�ura
tocante errava no ar...

Dos kiosques santos sahia uma susurra��o de canticos, de nota monotona e
triste. Pelos terra�os, enormes serpentes, veneradas como deuses, iam-se
arrastando, j� entorpecidas da friagem. E aqui e al�m, ao passar,
avistavamos buddhistas decrepitos, s�ccos como pergaminhos e nodosos
como raizes, encruzados no ch�o sob os sycomoros, n'uma immobilidade de
idolos, contemplando incessantemente o umbigo, � espera da perfei��o do
Nirvana...

E eu ia pensando, com uma tristeza t�o pallida como aquelle mesmo c�o
d'outubro asiatico, nas duas lagrimas redondinhas que vira brilhar, �
despedida, nos olhos verdes da generala!...




VI


J� a tarde declinava, e o sol descia vermelho como um escudo de metal
candente, quando cheg�mos a Tien-H�.

As muralhas negras da villa erguem-se, do lado do sul, ao p� d'uma
torrente que ruge entre rochas: para o nascente, a planicie livida e
poeirenta estende-se at� a um grupo escuro de collinas onde branqueja um
vasto edificio--que � uma Miss�o Catholica. E para al�m, para o extremo
norte s�o as eternas montanhas r�xas da Mongolia, suspensas sempre no ar
como nuvens.

Aloj�mo-nos n'um barrac�o fetido, intitulado _Estalagem da Consola��o
terrestre_. Foi-me reservado o quarto nobre, que abria sobre uma galeria
fixada em estacas; era ornado estranhamente de drag�es de papel
recortado, suspensos por cordeis do travejamento do tecto; � menor
aragem aquella legi�o de monstros fabulosos oscillava em cadencia, com
um rumor secco de folhagem, como tomada de vida sobrenatural e grotesca.

Previous Page | Next Page


Books | Photos | Paul Mutton | Sun 14th Dec 2025, 14:13