O Mandarim by Eça Queirós


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Page 18

Aqui est� o vasto palacio imperial, entre arvoredos mysteriosos, com os
seus telhados d'um amarello d'oiro vivo! Como eu desejaria penetrar-lhe
os segredos, e ver desenrolar-se, pelas galerias sobrepostas, a
magnificencia barbara d'essas Dynastias seculares!

Al�m ergue-se a torre do Templo do C�o semelhando tr�s guarda-soes
sobrepostos: depois a grande columna dos Principios, hieratica e s�cca
como o Genio mesmo da Ra�a: e adiante branquejam n'uma meia tinta
sobrenatural os terra�os de jaspe do Santuario da Purifica��o...

Ent�o interrogo S�-T�: e o seu dedo respeitoso vai-me mostrando o Templo
dos Antepassados, o Palacio da Soberana Concordia, o Pavilh�o das Fl�res
das Letras, o Kiosque dos Historiadores, fazendo brilhar, entre os
bosques sagrados que os cercam, os seus telhados lustrosos de faian�as
azues, verdes, escarlates e c�r de lim�o. Eu devorava, d'olho avido,
esses monumentos da Antiguidade asiatica, n'uma curiosidade de conhecer
as impenetraveis classes que os habitam, o principio das Institui�es, a
significa��o dos Cultos, o espirito das suas letras, a grammatica, o
dogma, a estranha vida interior d'um cerebro de letrado chinez... Mas
esse mundo � inviolavel como um Santuario...

Sentei-me na muralha, e os meus olhos perderam-se pela planicie arenosa
que se estira para al�m das portas at� aos contrafortes dos montes
mongolicos; ahi incessantemente redemoinham ondas infindaveis de poeira;
a toda a hora negrejam filas vagarosas de caravanas... Ent�o invadiu-me
a alma uma melancolia, que o silencio d'quellas alturas, envolvendo
Pekin, tornava d'um vago mais desolado: era como uma saudade de mim
mesmo, um longo pezar de me sentir alli isolado, absorvido n'aquelle
mundo duro e barbaro: lembrei-me, com os olhos humedecidos, da minha
ald�a do Minho, do seu adro assombreado de carvalheiras, a venda com um
ramo de louro � porta, o alpendre do ferrador, e os ribeiros t�o frescos
quando verdejam os linhos...

Aquella era a �poca em que as pombas emigram de Pekin para o sul. Eu
via-as reunirem-se em bandos por cima de mim, partindo dos bosques dos
templos e dos pavilh�es imperiaes; cada uma traz, para a livrar dos
milhafres, um leve tubo de bambu que o ar faz silvar; e aquellas nuvens
brancas passavam como impellidas d'uma aragem molle, deixando no
silencio um lento e melancolico suspiro, uma ondula��o eolia, que se
perdia nos ares pallidos...

Voltei para casa, pesado e pensativo.

Ao jantar, Camilloff, desdobrando o seu guardanapo, pediu-me com
bonhomia as minhas impress�es de Pekin.

--Pekin faz-me sentir bem, general, os versos d'um poeta nosso:

S�bolos rios que v�o
Por Babylonia me achei...

--Pekin � um monstro!--disse Camilloff oscillando reflectidamente a
calva.--E agora considere, que a esta capital, � classe tartara e
conquistadora que a possue, obedecem trezentos milh�es d'homens, uma
ra�a subtil, laboriosa, soffredora, prolifica, invasora... Estudam as
nossas sciencias... Um calice de Medoc, Theodoro?... Teem uma marinha
formidavel! O exercito, que outr'ora julgava destro�ar o estrangeiro com
drag�es de papel�o d'onde sahiam bichas de fogo, tem agora tactica
prussiana e espingarda d'agulha! Grave!

--E todavia, general, no meu paiz, quando, a proposito de Macau, se
falla do Imperio Celeste, os patriotas passam os dedos pela grenha, e
dizem negligentemente: _Mandamos l� cincoenta homens, e varremos a
China_...

A esta sandice--fez-se um silencio. E o general, depois de tossir
formidavelmente, murmurou, com condescendencia:

--Portugal � um bello paiz...

Eu exclamei com seccura e firmeza:

--� uma choldra, general.

A generala, collocando delicadamente � borda do prato uma aza de frango,
e limpando o dedinho, disse:

--� o paiz da can��o de Mignon. � l� que floresce a laranjeira...

O gordo Meriskoff, doutor allem�o pela Universidade de Bonn, chanceller
da lega��o, homem de poesia e de commentario, observou com respeito:

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Books | Photos | Paul Mutton | Wed 30th Apr 2025, 18:51