O Mandarim by Eça Queirós


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Page 17

* * * * *

--S�-T�, basta de cidade tartara! Vamos v�r os bairros chinezes...

E l� fomos penetrando na cidade chineza, pela porta monstruosa de
Tchin-Men. Aqui habita a burguezia, o mercador, a popula�a. As ruas
alinham-se como uma pauta; e no s�lo vetusto e lamacento, feito da
immundicie de gera�es recalcada desde seculos, ainda aqui e al�m jaz
alguma das lages de marmore c�r de rosa que outr'ora o cal�avam, no
tempo da grandeza dos Ming.

Dos dois lados s�o--ora terrenos vagos onde uivam manadas de c�es
famintos, ora filas de casebres fuscos, ora pobres lojas com as suas
taboletas esguias e sarapintadas, balou�ando-se d'uma haste de ferro. A
distancia erguem-se os arcos triumphaes feitos de barrotes c�r de
purpura, ligados no alto por um telhado oblongo de telhas azues
envernizadas, que rebrilham como esmaltes. Uma multid�o rumorosa e
espessa, onde domina o tom pardo e azulado dos trajes, circula sem
cessar; a poeira envolve tudo d'uma nevoa arnarellada; um fedor acre
exhala-se dos enxurros negros; e a cada momento uma longa caravana de
cam�los fende lentamente a turba, conduzida por mongoes sombrios
vestidos de pelle de carneiro...

Fomos at� �s entradas das pontes sobre os canaes, onde saltimbancos
semi-n�s, com mascaras simulando demonios pavorosos, fazem destrezas
d'um picaresco barbaro e subtil; e muito tempo estive a admirar os
astrologos de longas tunicas, com drag�es de papel collados �s c�stas,
vendendo ruidosamente horoscopos e consultas d'astros. Oh cidade
fabulosa e singular!

De repente ergue-se uma gritaria! Corremos: era um bando de presos, que
um soldado, de grandes oculos, ia impellindo com o guarda-sol, amarrados
uns aos outros pelo rabicho! Foi ahi n'essa avenida, que eu vi o
estrepitoso cortejo de um funeral de Mandarim, todo ornado de
auriflammas e de bandeirolas; grupos de sujeitos funebres vinham
queimando papeis em fogareiros portateis; mulheres esfarrapadas uivavam
de d�r espojando-se sobre tapetes; depois erguiam-se, galhofavam, e um
kouli vestido de luto branco servia-lhes logo ch�, d'um grande bule em
f�rma d'ave.

Ao passar junto ao Templo do C�o, vejo apinhada n'um largo uma legiao de
mendigos; tinham por vestuario um tijolo preso � cinta n'um cordel; as
mulheres, com os cabellos entremeados de velhas fl�res de papel, roiam
ossos tranquillamente; e cadaveres de crian�as apodreciam ao lado, sob o
v�o dos moscardos. Adiante topamos com uma jaula de traves, onde um
condemnado estendia, atrav�s das grades, as m�os descarnadas, �
esmola... Depois S�-T� mostrou-me respeitosamente uma pra�a estreita:
ahi, sobre pilares de pedra, poupavam pequenas gaiolas contendo cabe�as
de decapitados: e gotta a gotta ia pingando d'ellas um sangue espesso e
negro...

* * * * *

--Ouf!--exclamei, fatigado e aturdido.--S�-T�, agora quero o repouso, o
silencio, e um charuto caro...

Elle curvou-se: e, por uma escadaria de granito, levou-me �s altas
muralhas da cidade, formando uma esplanada que quatro carros de guerra a
par podem percorrer durante leguas.

E emquanto S�-T�, sentado n'um v�o d'ameia, bocejava n'um desaf�go de
_cicerone_ enfastiado, eu fumando contemplei muito tempo aos meus p�s a
vasta Pekin...

� como uma formidavel cidade da Biblia, Babel, ou Ninive que o propheta
Jonas levou tres dias a atravessar. O grandioso muro quadrado limita os
quatro pontos do horisonte, com as suas portas de torres monumentaes,
que o ar azulado, �quella distancia, faz parecer transparentes. E na
immensid�o do seu recinto agglomeram-se confusamente verduras de
bosques, lagos artificiaes, canaes scintillantes como a�o, pontes de
marmore, terrenos alastrados de ruinas, telhados envernizados reluzindo
ao sol; por toda a parte s�o pagodes heraldicos, brancos terra�os de
templos, arcos triumphaes, milhares de kiosques sahindo d'entre as
folhagens dos jardins; depois espa�os que parecem um mont�o de
porcelanas, outros que se assemelham a monturos de lama; e sempre a
intervallos regulares o olhar encontra algum dos basti�es, d'um aspecto
heroico e fabuloso...

A multid�o, junto a essas edifica�es grandiosas, � apenas como gr�os
d'ar�a negra que um vento brando vai trazendo e levando...

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Books | Photos | Paul Mutton | Wed 30th Apr 2025, 13:27