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Page 14
O velho heroe apertou-me um momento ao peito, e conduziu-me logo,
segundo os usos chinezes, ao banho da hospitalidade, uma vasta tina de
porcelana, onde entre rodelas finas de lim�o sobrenadavam esponjas
brancas, n'um perfume forte de lilaz...
Pouco depois a lua banhava deliciosamente os jardins: e eu, muito
fresco, de gravata branca, entrava pelo bra�o de Camilloff no _boudoir_
da generala. Era alta e loira; tinha os olhos verdes das sereias de
Homero; no decote baixo do seu vestido de s�da branca pousava uma rosa
escarlate; e nos dedos, que lhe beijei, errava um aroma fino de sandalo
e de ch�.
Convers�mos muito da Europa, do Nihilismo, de Zola, de Le�o XIII, e da
magreza de Sarah Bernardth...
Pela galeria aberta penetrava um ar calido que rescendia a heliotropio.
Depois ella sentou-se ao piano--e a sua voz de contralto quebrou at�
tarde os silencios melancolicos da cidade tartara, com as picantes arias
de _Madame Favart_ e com as melodias afagantes do _Rei de Lahore_.
* * * * *
Ao outro dia cedo, encerrado com o general n'um dos kiosques do jardim,
contei-lhe a minha lamentavel historia e os motivos fabulosos que me
traziam a Pekin. O heroe escutava, cofiando sombriamente o seu espesso
bigode cossaco...
--O meu prezado hospede sabe o chinez?--perguntou-me de repente, fixando
em mim a pupilla sagaz.
--Sei duas palavras importantes, general: _Mandarim_ e _ch�_.
Bile passou a sua m�o de fortes cordov�as sobre a medonha cicatriz que
lhe sulcava a calva:
--_Mandarim_, meu amigo, n�o � uma palavra chineza, e ninguem a entende
na China. � o nome que no seculo XVI os navegadores do seu paiz, do seu
bello paiz...
--Quando n�s tinhamos navegadores...--murmurei, suspirando.
Elle suspirou tambem, por polidez, e continuou:
--...Que os seus navegadores deram aos funccionarios chinezes. Vem do
seu verbo, do seu lindo verbo...
--Quando tinhamos verbos...--rosnei, no habito instinctivo de deprimir a
patria.
Elle esgazeou um momento o seu olho redondo de velho mocho--e proseguiu
paciente e grave:
--Do seu lindo verbo _mandar_ ... Resta-lhe por tanto _ch�_. � um
vocabulo que tem um vasto papel na vida chineza, mas julgo-o
insufficiente para servir a todas as rela�es sociaes. O meu estimavel
hospede pretende esposar uma senhora da famillia Ti-Chin-F�, continuar a
grossa influencia que exercia o Mandarim, substituir, domestica e
socialmente, esse chorado defunto... Para tudo isto disp�e da palavra
_ch�_. � pouco.
N�o pude negar--que era pouco. O venerando russo, franzindo o seu nariz
adunco de milhafre, p�z-me ainda outras objec�es que eu via erguerem-se
diante do meu desejo--como as muralhas mesmas de Pekin: nenhuma senhora
da familia Ti-Chin-F� consentiria j�mais em casar com um barbaro; e
seria impossivel, terrivelmente impossivel que o Imperador, o Filho do
Sol, concedesse a um estrangeiro as honras privilegiadas d'um
Mandarim...
--Mas porque m'as recusaria?--exclamei.--Eu perten�o a uma boa familia
da provincia do Minho. Sou bacharel formado: portanto na China, como em
Coimbra, sou um letrado! J� fiz parte d'uma reparti��o publica... Possuo
milh�es... Tenho a experiencia do estylo administrativo...
O general ia-se curvando com respeito a esta abundancia dos meus
attributos.
--N�o �--disse elle emfim--que o Imperador realmente o recusasse: � que
o individuo que lh'o propozesse seria immediatamente decapitado. A lei
chineza, n'este ponto, � explicita e secca.
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