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Page 12
Visitei, na sua ordem, classica, Paris, a banal Suissa, Londres, os
lagos taciturnos da Escocia; ergui a minha tenda diante das muralhas
evangelicas de Jerusal�m; e d'Alexandria a Thebas, fui ao comprido
d'esse longo Egypto monumental e triste como o corredor d'um mausol�o.
Conheci o enj�o dos paquetes, a monotonia das ruinas, a melancolia das
multid�es desconhecidas, as desillus�es do _boulevard_: e o meu mal
interior ia crescendo.
Agora j� n�o era s� a amargura de ter despojado uma familia veneravel:
assaltava-me o remorso mais vasto de ter privado toda uma sociedade d'um
Personagem fundamental, um letrado experiente, columna da Ordem, esteio
d'Institui�es. N�o se p�de arrancar assim a um Estado uma personalidade
do valor de cento e seis mil contos, sem lhe perturbar o equilibrio...
Esta id�a pungia-me, acerbamente. Anciei por saber se na verdade a
desappari��o de Ti-Chin-F� f�ra funesta � decrepita, China: li todos os
jornaes de Hong-Kong e de Chang-Hai, velei a noite sobre Historias de
viagens, consultei sabios missionarios:--e artigos, homens, livros, tudo
me falla da decadencia do Imperio do Meio, provincias arruinadas,
cidades moribundas, plebes esfomeadas, pestes e rebelli�es, templos
aluindo-se, leis perdendo a authoridade, a decomposi��o d'um mundo, como
uma nau encalhada que a vaga desfaz t�bua a t�bua!...
E eu attribuia-me estas desgra�as da Sociedade chineza! No meu espirito
doente Ti-Chin-F�! tom�ra ent�o o valor desproporcionado d'um Cesar, um
Moys�s, um d'esses s�res providenciaes que s�o a for�a d'uma ra�a. Eu
mat�ra-o; e com elle desapparecera a vitalidade da sua patria! O seu
vasto cerebro poderia talvez ter salvado, a rasgos geniaes, aquella
velha monarchia asiatica--e eu immobilis�ra-lhe a ac��o creadora! A sua
fortuna concorreria a refazer a grandeza do Erario--e eu estava-a
dissipando a offerecer pecegos em janeiro �s messalinas do
Helder!...--Amigos, conheci o remorso colossal de ter arruinado um
imperio!
Para esquecer este tormento complicado, entreguei-me � orgia.
Installei-me n'um palacete da avenida dos Campos-Elysios--e fui medonho.
Dava festas � Trimalci�o: e, nas horas mais asperas de furia libertina,
quando das charangas, na estridencia brutal dos cobres, rompiam os
_can-cans_; quando prostitutas, de seio desbragado, ganiam coplas
canalhas; quando os meus convidados bohemios, atheus de cervejaria,
injuriavam Deus, com a ta�a de _Champagne_ erguida--eu, tomado
subitamente como Heliogabalo d'um furor de bestialidade, d'um �dio
contra o Pensante e o Consciente, atirava-me ao ch�o a quatro patas e
zurrava formidavelmente de burro...
Depois quiz ir mais baixo, ao deboche da plebe, �s torpezas alco�licas
do _Assomoir_: e quantas vezes, vestido de blusa, com o casquete para a
nuca, de bra�o dado com _Mes-Bottes_ ou _Bibi-la-Gaillarde_, n'um tropel
avinhado, fui cambaleando pelos _boulevards_ exteriores, a uivar, entre
arrotos:
_Allons, enfants de la patrie-e-e!...
Le jour de gloire est arriv�..._
Foi uma manh�, depois d'um d'estes excessos, � hora em que nas trevas da
alma do debochado se ergue uma vaga aurora espiritual--que me nasceu, de
repente, a id�a de partir para a China! E, como soldados em acampamento
adormecido, que ao som do clarim se erguem, e um a um se v�o juntando e
formando columna--outras id�as se foram reunindo no meu espirito,
alinhando-se, completando um plano formidavel... Partiria para Pekin;
descobriria a familia de Ti-Chin-F�; esposando uma das senhoras,
legitimar�a a posse dos meus milh�es; daria �quella casa letrada a
antiga prosperidade; celebraria funeraes pomposos ao Mandarim, para lhe
acalmar o espirito irritado; iria pelas provincias miseraveis fazendo
colossaes distribui�es d'arroz; e, obtendo do Imperador o bot�o de
crystal de Mandarim, accesso facil a um bacharel, substituir-me-hia �
personalidade desapparecida de Ti-Chin-F�--e poderia assim restituir
legalmente � sua patria, sen�o a authoridade do seu saber, ao menos a
for�a do seu oiro.
Tudo isto, por vezes, me apparecia como um programma indefinido,
nevoento, pueril e idealista. Mas j� o desejo d'esta aventura original e
epica me envolvera; e eu ia, arrebatado por elle, como uma folha secca
n'uma rajada.
Anhelei, suspirei por pisar a terra da China!--Depois d'altos
preparativos, apressados a punhados d'oiro, uma noite parti emfim para
Marselha. Tinha alugado todo um paquete, o _Ceyl�o_. E na manh�
seguinte, por um mar azul-ferrete, sob o v�o branco das gaivotas, quando
os primeiros raios do sol ruborisavam as torres de Nossa Senhora da
Guarda, sobre o seu rochedo escuro--puz a pr�a ao Oriente.
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