Amor de Perdição by Camillo Castello Branco


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Page 77

Entrou o commandante com uma lampada, e approximou-lh'a da respira��o,
que n�o embaciou levemente o vidro.

--Est� morto!...-- disse elle.

Marianna curvou-se sobre o cadaver, e beijou-lhe a face. Era o primeiro
beijo. Ajoelhou depois ao p� do camarote com as m�os erguidas, e n�o
orava nem chorava.

Algumas horas depois, o commandante disse a Marianna:

--Agora � tempo de dar sepultura ao nosso venturoso amigo ... � ventura
morrer quando se vem a este mundo com tal estrella... Passe a senhora
Marianna ali para a camara, que vai ser levado d'aqui o defuncto.

Marianna tirou o masso das cartas debaixo do travesseiro, e foi a uma
caixa buscar os papeis de Sim�o. Atou o rolo no avental, que elle tinha
d'aquellas lagrimas d'ella choradas no dia da sua demencia, e cingiu o
embrulho � cintura.

Foi o cadaver envolto n'um len�ol, e transportado ao convez.

Marianna seguiu-o.

Do por�o da nau foi trazida uma pedra, que um marujo lhe atou �s pernas
com um peda�o de cabo. O commandante contemplava a scena triste com os
olhos humidos, e os soldados, que guarneciam a nau, t�o funeral respeito
os acurvava, que insensivelmente se descobriram.

Marianna estava, no entanto, encostada ao flanco da nau, e parecia
estupidamente encarar aquelles empux�es, que o marujo dava ao cadaver
para segurar a pedra na cintura.

Dois homens ergueram o cadaver ao alto sobre a amurada. Deram-lhe o
balan�o para o arremessarem longe. E antes que o baque do morto se
fizesse ouvir na agua, todos viram, e ningu�m j� p�de segurar Marianna,
que se atir�ra ao mar.

� voz do commandante desamarraram rapidamente o bote, e saltaram homens
para salvar Marianna.

Salval-a!...

Viram-na, um momento, bracejar, n�o para resistir � morte, mas para
abra�ar-se ao cad�ver de Sim�o, que uma onda lhe atirou aos bra�os. O
commandante olhou para o sitio d'onde Marianna se atir�ra, e viu,
enleado no cordame, o avental, e � flor d'agua um rolo de papeis que os
marujos recolheram na lancha. Eram, como sabem, a correspondencia de
Thereza e Sim�o.

* * * * *

Da familia de Sim�o Botelho vive ainda, em Villa Real de Traz-os-Montes,
a senhora D. Rita Emilia da Veiga Castello Branco, a irm� predilecta
d'elle. A ultima pessoa fallecida, ha vinte e seis annos, foi Manoel
Botelho, pae do author d'este livro.


FIM.

* * * * *

[1] Ha vinte annos que eu ouvi d'um coevo do facto a historia do
assassinio assim contada: Era em quinta Feira santa. Marcos Botelho,
irm�o de Domingos, estava na festa de endoen�as, em S. Franc�sco,
defrontando com uma dama, namorada sua, e desleal dama que ella era.
N'outro ponto da igreja estava, apontado em olhos e cora��o � mesma
mulher, um alferes de infanteria. Marcos enfreou o seu ciume at� ao
final do officio da paix�o. � sahida do templo encarou no militar, e
provocou-o. O alferes tirou da espada, e o fidalgo do espadim. Ter�aram
as armas longo tempo sem desaire nem sangue. Amigos de ambos tinham
conseguido aplacal-os, quando Luiz Botelho, outro irm�o de Marcos,
desfechou uma clavina no peito do alferes, e alli � entrada da �rua do
Jogo da Bola� o derribou morto. O homicida foi livre por gra�a regia.

[2] � a casa-palacete da �rua da Piedade�, hoje pertencente ao doutor
Antonio Girardo Monteiro.

[3] Esclarece este dizer de D. Rita a certid�o de idade de Sim�o, a qual
tenho presente, e � extrahida por Herculano Henrique Garcia Camillo
Galhardo, reitor da real Igreja da Senhora da Ajuda, do livro 14, a
folhas 159 v. Reza assim:

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Books | Photos | Paul Mutton | Sat 27th Dec 2025, 2:46