Chronica d'El-Rei D. Affonso III by Ruy de Pina


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Page 10

Com esta confian�a o Commendador, e cinco outros Cavalleiros com elle a
cavallo se partiram de Cacella, e trazendo o caminho direito de Tavilla,
passaram pela ponte, e entraram, e seguiram pelo meio da pra�a da Villa,
e chegaram �s Antas, lugar da ca�a, que � uma legoa da Villa a cerca da
ribeira, onde come�aram de ca�ar, e haver prazer sem alguma magina��o
nem sospeita da morte, que se lhes aparelhava, porque os Mouros de
Tavilla quando daquella maneira viram passar os Christ�os, havendo que
era em seu manifesto desprezo, receberam por esso grande dor, porque sua
vista lhes fizera viva lembran�a das mortes, e males, que delles j�
muitas vezes tinham recebidos, e diceram antre si: �Certamente os
homens, que somos, que sofrem tanta mingua, e tanto desprezo quanto
estes Christ�os com soberba nos fazem s�o mais que mortos, e n�o tem
siso, vergonha nem cora��o, assi passam por aqui os Christ�os nossos
imigos t�o seguros como se fossemos bestas, e elles senhores da nossa
Villa�.

Sobre as quaes palavras de murmura��o se ajuntaram muitos com grande
honra, e determinaram ir logo como foram com grande ira, e com passos
mui apressados sobre os Christ�os, os quaes andano � ca�a, quando viram
tantos Mouros, ca a grande sua pressa, e alvoro�o com que iam, em cazo
que ainda fosse de longe logo presumiram a m�, e indinada ten��o, com
que vinham, pelo qual leixadas as aves, e seu officio ocioso se
ajuntaram, e diceram: �Claro � que estes Mouros vem sobre n�s, e o
principal remedio � o de Deos, que por sua piedade nos queira esfor�ar,
e soccorrer, e apoz este concelho seja que nos percebamos, e esperemos
como Cavalleiros qualquer afronta, que nos vier, e prazer� a Deos, que
pois somos Christ�os, que n�o s�mente nos defenderemos, mas que com sua
ajuda os venceremos, e quando a ventura for t�o contraira que n�o
possamos salvar as vidas, ao menos v�nguemol-as primeiro com mortes
destes, e hajamol-as por bem empregadas em seu servi�o�.

Com esto enviaram logo ao Mestre um mensageiro com grande trigan�a
pedindo lhe que os soccorresse, e com aquella pressa, e deligencia que
em t�o breve tempo foi possivel, e para elles em tanto se defenderem e
pelejarem, fizeram um palanque de paos de figueiras velhas a que se
recolheram, onde os mouros com muita furia os vieram logo commetter, em
que acharam muito esfor�o, e grande resistencia, e n�o t�o leves como
elles cuidavam, e estando os Christ�os nesta afronta acertou-se, que
Gracia Rodrigues, o Mercador, com que o Mestre se aconcelhara na vinda
do Algarve, como atraz dice, indo de Far�o para Tavilla com suas cargas
de mercadorias segundo costumava, quando vio o desassosego, e
ajuntamento dos Mouros seguio o fio delles para saber o que era, e
quando vio a peleja, e grande perigo em que os Christ�os estavam, volveu
rijamente onde deixara suas cargas, e dice aos seus servidores: �I vos e
leixai essas arrecovas, e tomai essas mercadorias que partireis antre
v�s, ca se eu viver n�o me falecer� de que viva, e se morrer esso me
basta, pois � em servi�o de Deus�.

E com esto acabado, arremeteo, e se lan�ou ao palanque, e dentro delle
se ajuntou com os Christ�os, e que ajudou e esfor�ou quanto a um bom
homem era possivel, onde por grande espa�o se defenderam, e pelejaram,
dando e recebendo muitas feridas, e assi eram afrontados, e por tantas
partes combatidos, que um n�o podia dar f� do que o ouro fazia, e em fim
por as for�as dos Christ�os serem j� de grande trabalho vencidos, o seu
palanque foi roto, e entrado, e elles todos sete por desfalecimento da
virtude corporal cortados de mortaes feridas acabaram as vidas como
Cavalleiros, e bons Christ�os, o que n�o foi sem publica vingan�a de
suas mortes, de que os corpos dos Mouros sem almas d�ram alli verdadeiro
testemunho.

Durando a peleja dos Christ�os chegou seu recado ao Mestre que era em
Cacella, donde com grande trigan�a logo partio com desejo de os
soccorrer, porque bem sabia que os Cavalleiros eram taes, que sem medo,
nem outro seu desfalecimento, ou haviam de viver, ou morrer, e seguiu o
caminho porque elles vieram, e sem contradi��o, nem defeza dalguma
pessoa entrou pela Villa, e pra�a della, e t�o intento, e acezo ia no
dezejo que levava de soccorrer aos Chryst�os, que passando por ella n�o
lhe lembrou, que dessa vez livremente, e sem perigo a podia tomar se
quizera, e quando chegou �s Antas, onde achou, e vio todolos seus
Cavalleiros mortos, anojado e mui iroso por t�o feio feito houve com os
Mouros, que ainda topou mui crua peleja, onde matou tantos, que os ossos
delles foram depois por longos tempos ali vistos em grande soma, e aos
outros, que fogiram, foi seguindo o alcance fazendo nelles grande
estrago at� � Villa, cujas portas os Mouros ach�ram fechadas, porque os
visinhos, e gentes que em ella ficaram, quando viram passar o Mestre ao
soccorro dos Cavalleiros a que ia, bem entenderam qual seria sua
determina��o como soubesse parte do cazo.

E por esso cerraram bem suas portas, que n�o quizeram abrir aos seus que
vinham fogindo, e s�mente lhe abriram um postigo pequeno, e escuro, que
est� contra a mouraria, sobre que deu o Mestre e os ferio t�o rijo, e
com tanta braveza, que n�o tendo elles acordo para se defenderem, nem de
cerrar a porta entrou por ella o Mestre de volta com elles, e cobrou a
Villa, e apoderou-se della dentro da qual, e f�ra della o Mestre, e os
seus fizeram nos Mouros grande estrago. E era neste tempo senhor de
Tavilla Abenfalula, Mouro que n�o se sabe se morreo nestas pelejas, se
ficou no lugar, como outros alguns ficaram. E esta batalha, e os
Cavalleiros mortos, e a Villa tomada foi tudo a nove dias de Junho de
mil e duzentos e quarenta e dous (1242). E o Mestre como de todo foi
apoderado da Villa, e a leixou com boa seguran�a, com alguma gente
darmas tornou �s Antas onde os Cavalleiros mortos jaziam, e chorando por
elles muitas lagrimas, e dando grandes gemidos e tristes sospiros os
mandou apartar dantre os corpos dos Mouros que elles mataram, e cheos
todos de muito sangue das grandes feridas de que morreram, os fez levar
� Villa, e na mesquita, que o Mestre fez consagrar em Egreja da
Envoca��o de Nossa Senhora mandou logo fazer um grande Moimento de
pedra, em que se pintaram sete Escudos, todos com as vieiras de
San-Tiago, e nelles os seis Cavalleiros, e Gracia Rodrigues com elles
foram todos sete sepultados, e seus nomes s�o estes, Pedro Rodrigues
Commendador m�r, Mem do Vale, Dur�o Vaz, Alvaro Gracia, Estevam Vaz,
Beltram de Caya, e o Mercador Gracia Rodrigues, cujos corpos foram
depois havidos em grande reverencia, e deva��o, e piedosamente n�o era
sem cauza, porque como Martyres espargeram seu sangue, e como fieis
Catholicos perderam as vidas pela F� de Jesu Christo N. Senhor.

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Books | Photos | Paul Mutton | Sat 15th Mar 2025, 14:23