Chronica d'El-Rei D. Affonso III by Ruy de Pina


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Page 5




CAPITULO III


_Como a Condessa de Bolonha veio a Portugal, e como El-Rei seu marido a
n�o quiz ver, e ella se tornou, e do que sobre esso fez_


E passados alguns annos depois que El-Rei Dom Affonso partiu de Bolonha
a Condessa sua molher, soube l� o falecimento del-Rei Dom Sancho, e assi
como o Conde seu marido pacificamente era alevantado, e obedecido por
Rei de Portugal, e n�o sabendo nada do cazamento del-Rei, e confiando
que elle se a visse a trataria, e honraria como a verdadeira sua molher,
que era, fez-se logo prestes, e em Naos bem aparelhadas, e de
Cavalleiros, e nobre gente, e doutras gentes bem acompanhada, e com um
seu filho, que se diz que tinha de seu marido, partio de sua terra, e
veo ancorar ante a Villa de Cascais, cinco legoas de Lisboa, onde
perguntando ella, e os seus por El-Rei onde era? Foi logo certificada
que El-Rei estava em Frielas, duas legoas de Lisboa, cazado j� com outra
molher, com as quaes novas a Condessa recebeo muita torva��o, e grande
tristeza, e pezou-lhe muito de sua vinda, e assi aos de sua companhia,
especialmente depois que soube o estado, e condi��o da segunda molher,
que era filha del-Rei de Castella.

E tendo concelho �cerca do que neste caso faria, acordaram, que antes de
tudo era bem que fossem a El-Rei dous seus Cavalleiros principaes, que
vinham com ella e delle eram bem conhecidos e a que por seus servi�os,
que nas guerras de Fran�a lhe tinham feitos, e por outros merecimentos,
queria grande bem, e que estes lhe fizessem saber da vinda da Condessa,
e assi o nojo, e espanto que por seu cazamento tinha com rez�o recebido,
e soubessem delle finalmente a detremina��o de sua vontade. Estes
Cavalleiros em chegando a El-Rei foram logo delle por seu conhecimento
mui bem recebidos, mas depois que lhe propuzeram a Embaxada da Condessa
com a graveza, e estranhamentos, que ella mandou, e disseram o mortal
sentimento, e deshonra em que estava, e lhe pedia que por comprir sua
bondade, e conciencia a recebesse no Reino, e tratasse por sua molher
como merecia.

El-Rei avendo-se delles por escandalizado, por ouzarem de lhe trazer em
tal tempo tal mensagem com o rostro irado lhes disse, que de n�o
perderem as vidas com suas cabe�as cortadas os relevava naquella ora o
grande bem que lhes queria, e os muitos servi�os que lhe tinham feitos,
e que por�m n�o fizessem ante elle mais deten�a, antes que logo se
tornassem � Condessa, e lhe dissessem que n�o saisse em seu Reino, mas
que delle logo sem nenhuma delonga se partisse, e se tornasse para sua
terra donde viera, que se o assi n�o fizesse elle teria com ella tal
maneira de que lhe muito pezaria.

Com esta reposta chea de tanta aspereza, e f�ra de toda a humanidade, os
Cavalleiros se tornaram para a Condessa, a qual maravilhada, e
atemorizada da sem rez�o, e indigna��o del-Rei, e das mais cousas, que
elles em seu cazo mais passaram, e lhe cont�ram; mandou fazer prestes
suas naos, e embarcou nellas, e se tornou para Bolonha, e o tempo que a
Condessa veo a Cascais se diz, que ella trazia um filho seu, e del-Rei
Dom Affonso, como j� disse, cujo nome, vida, nem feitos n�o achei
declaradamente escritos, porque uns dizem, que quando a Condessa se
partio de Cascais, que o leixou em terra, para que o levassem a seu pai,
dizendo que n�o quizesse Deos, que com ella tornasse cousa del-Rei, e
por outra certa lembran�a achei, que ella tornou a levar seu filho
comsigo, e que depois o mandou a Portugal, onde El-Rei o mandou bem
criar, e que saio muito bom Cavalleiro, e mui amado del-Rei, e dos
Nobres do Reino, e que foi cazado com uma filha do Ifante Dom Pedro de
Castella, que era a mais fermosa molher Despanha; mas qual era este
Ifante Dom Pedro, e sua filha, e os nomes delles, e em que tempo
cazaram, e que terra tiveram, e o que se delles fez depois eu o n�o
soube.

A Condessa como chegou � sua terra manifestou logo sua querella a seus
parentes, que eram Nobres, e grandes homens no Reino de Fran�a, por cujo
concelho, e ajuda, ella se enviou logo querelar ao Papa, que ent�o era
em Fran�a, noteficando-lhe largamente todo o que com seu marido pass�ra
no Reino de Portugal, pedindo a Sua Santidade que com suas Excommunh�es,
e Cen�uras mandasse apartar El-Rei Dom Affonso seu marido, da Rainha
Dona Breatiz, que como Christ�os, n�o podiam cazar, como cazaram; e
mandasse que recebesse a ella para ter a honra, dinidade, e terras que
de direito, como sua verdadeira molher lhe pertencia. E o Papa
maravilhado da novidade por seu Breve o enviou muito estranhar a El-Rei
Dom Affonso, e lhe rogou, e amoestou com palavras catholicas, e mui
honestas, que logo se apartasse do segundo cazamento, e quizesse estar
pelo primeiro, conforme a justi�a, e peti��o da Condessa, e porque
El-Rei n�o satisfez com efeito aos mandados Apostolicos, o Papa enviou
sua comiss�o ao Arcebispo de San-Tiago, porque lhe mandou que outra vez
requeresse, e amoestasse El-Rei Dom Affonso �cerca de seu apartamento, e
quando logo o n�o fizesse, que o citasse, e emprazasse, que a quatro
mezes parecesse em pessoa perante elle em sua C�rte, para ser ouvido com
a Condessa, e estar a todo comprimento de Justi�a, e o Arcebispo fez
inteiramente todo o que neste cazo o Papa lhe mandou, mas El-Rei n�o foi
� cita��o em pessoa, mas cresse que mandaria seu Procurador por elle
sobre este negocio. Foi na Corte do Papa ordenado processo, e foi por
elle tanto procedido que em favor da Condessa, e contra El-Rei foi dada
senten�a do apartamento seu, e da Rainha Dona Breatiz, e porque n�o
obedeceram a ella, foi pelo Papa posto antredito em todo o Reino que
durou muitos annos, acabados os quaes andando a era em mil e duzentos
sessenta e dous (1262), a Condessa de Bolonha Dona Matildes faleceo em
Fran�a, por morte, que em Portugal foi logo sabida.

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Books | Photos | Paul Mutton | Sun 2nd Feb 2025, 21:46